Foto Claudio Peri/EPA |
Para o diretor, "não importa se é o Brasil ou a China", se pagar ele leva à sério. Allen conta que depois do seu próximo filme, nos EUA, ele vai voltar a filmar pelo mundo e que recebeu propostas na América do Sul, em Moscou e na China.
Tem confiança na política, e na reeleição, de Barack Obama, acha que o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi "ficou muito louco" e, claro, reafirmou sua paixão por Nova York, "o centro cultural do mundo".
Abaixo, a tradução, na íntegra, da entrevista, por conta e risco deste blog. A original no El País é assinada pelo correspondente na França Miguel Mora.
"Eu concordo: meus filmes europeus são como guias turísticos"
- "Para Roma com Amor ' é mais um marco na turnê europeia do gênio do Brooklyn
- Woody Allen fala sobre Obama, a crise na Espanha ... e da sua vida
Truman Capote definiu as entrevistas com as estrelas de cinema para promover lançamentos como o gênero menor do jornalismo. Certamente ele estava certo, porém quando o que você está promovendo é Allan Konigsberg Stewart, ou seja, de Woody Allen, é impossível resistir. Nascido no Brooklyn, Nova York, em 01 de dezembro de 1935, o diretor, roteirista, ator, músico, escritor, quatro vezes vencedor do Oscar, "Allen é um dos diretores mais respeitados, influentes e prolíficos da era moderna, lançando um filme por ano desde 1969 ". Ou assim diz a Wikipedia.
Ultimamente, cansado dos produtores de seu país que querem controlar desde os roteiros até a distribuição, o criador de Annie Hall tem rodado vários filmes na Europa. Depois de Londres, Paris e Barcelona/Oviedo, chegou a vez de Roma, onde ele dirigiu e atuou em “Roma, com o amor”, uma descuidada, louca e, às vezes, uma deliciosa sucessão de piadas, com Roberto Benigni, Alec Baldwin e Penélope Cruz no elenco. Demolido pelos críticos, o filme estreia na Espanha no próximo dia 21.
Pergunta. Você normalmente não gosta de dar entrevistas. Por quê?
Resposta. Eu acho que não servem para nada. A promoção nunca funciona. Ninguém acredita numa palavra do que você diz, e fazem bem. As pessoas não vão ver o filme porque leram a sua entrevista. Elas vão quando os amigos dizem que é bom; e se não, não.
P. Sol Hurok já disse: "Quando as pessoas não querem ir (ao teatro), ninguém as detém".
R. Exato. E, por outro lado, você nunca sabe por que eles vão ou por que eles gostam de um filme.
P. Você acha que eles irão ver por você ou por Roma?
R. Eu não sei. Roma é uma bela cidade. Fiquei lá três meses, visitei lugares lindos, conheci novas pessoas e comi uma comida muito boa.
P. É o fim da sua etapa europeia?
R. Não, não. Eu espero continuar filmando fora, meu próximo filme é nos Estados Unidos, mas o próximo vai ser em outro lugar. Me ofereceram para filmar na América do Sul, em Moscou, na China, em lugares diferentes, e estamos decidindo.
P. Você veio aqui só pelo dinheiro?
R. Aqui me financiam, e sempre estou lutando para encontrar dinheiro, por isso, se um país me chama e diz "venha fazer um filme, que te pagamos", não importa se é o Brasil ou a China, eu tenho que levar a sério .
P. No seu país não financiam seus projetos?
R. Eu posso encontrar o dinheiro, mas sempre querem interferir, ler o roteiro, saber quem atua, todo esse tipo de informação que eu não gosto de dar. Na Europa eles não se importam, me dizem "sabemos quem é você, confiamos em você, pega o dinheiro e faz o filme". Eu os prefiro, de longe.
P. Alguns críticos disseram que seu filmes europeus são como guias turísticos.
R. Eu concordo. Adoro as cidades e amo fotografá-las. Se eu tiver a oportunidade de trabalhar em Roma, Barcelona ou Paris, eu tento encená-las, é muito importante para mim. Então, sim, eu concordo que são como guias.
P. Eles também dizem que não vão muito além dos clichês ...
R. Isso também é completamente verdade. Eu não tenho conhecimento real dessas cidades, não conheço Barcelona como um espanhol ou Londres como um inglês. Na Europa eu sou estritamente um turista, tenho a percepção de um turista.
P. E isso é bom ou ruim?
R. Acredito que é bom. É o que eu quero fazer e acho que é o que o público quer ver. Eu gosto de dar a minha percepção de turista. Na verdade, é o que eu fiz anos atrás em “Manhattan”, com Nova York, e todos na cidade disseram "isso não é Nova York, Nova York é uma cidade romântica, não é a verdadeira Nova York". Eu concordo.
P. Uma cidade idealizada.
R. É a que os meus olhos vêem. Minha visão de Roma, Londres ou Paris vai interessar as pessoas que gostam do meu jeito de olhar. Se você quer saber sobre economia, política, crime, uma compreensão profunda, eu não sou o suficiente...
P. Bem que seria ótimo que fizesses um filme sobre a máfia...
R. Te parece? Eu nunca tive uma boa ideia, se tivesse faria em um minuto. As pessoas gostam de filmes sobre a máfia!
P. Você gosta de “O Poderoso Chefão”?
R. Eu gosto, o segundo filme é uma obra-prima. Eu também gosto de Scorsese e seus filmes e, sim, eu acho que funcionaria um filme cômico sobre a máfia. Se eu tivesse uma boa ideia...
P. Seu personagem em “Roma com Amor” tem horror de andar de avião, você também?
R. Eu voo, mas sempre vou inquieto. Não tomo pílulas e não gosto de uísque, mas às vezes eu tenho que tomar uma cerveja. Se tenho que ir vou, mas não gosto.
P. Como é ficar um longo tempo afastado de Nova York?
R. Adoro viver em Nova York. Quando trabalho, volto para editar, montar, colocar a música e a pós-produção. Às vezes eu saio com a banda de jazz em turnê. Não me importo de estar fora se os hotéis são bons.
P. Você gosta escrever quando viaja?
R. Agora eu estou escrevendo porque eu acabei de terminar o elenco do novo filme. É uma história séria, emotiva, com Alec Baldwin e Kate Blanchet.
P. Como você vê a velha Europa com a sua enorme crise?
R. Vejo que a Europa está pior do que os EUA agora; nós passamos um tempo muito ruim, mas Obama foi muito eficaz, e acho que vai ser ainda mais nos próximos quatro anos, após as eleições. Ele tem feito um bom trabalho, lento e difícil, mas está fazendo. Se a Europa continuar em crise, terá um efeito negativo sobre os Estados Unidos, e pode complicar a vitória de Obama. A Grécia é um grande problema e a Espanha atravessa um momento muito ruim, mas é diferente. A Espanha é um país grande e você sente que vai sair dessa. Estou menos seguro sobre a Grécia.
P. Uma vez você disse que ouvir Wagner produz efeitos estranhos...
R. A Alemanha tem de responder à crise de uma maneira generosa e cooperativa. Eles não podem exigir mais austeridade, porque isso é muito difícil para as pessoas e não ajuda a criar empregos. Tem que fazer o oposto a isso.
P. Você já notou sintomas de depressão no setor cultural?
R. Não muito. A crise é o grande tema das conversas, mas não sinto que a cultura europeia tenha se ressentido. Nos Estados Unidos há mais humor político. Mas, se a crise se agravar não sei o que pode acontecer. Sim, mostra que as pessoas estão chateadas e é compreensível.
P. A Itália sentiu o impacto Berlusconi?
R. Bem, foi um líder muito extravagante, não há dúvida. As pessoas gostam desses personagens, talvez porque sejam misteriosos e tenham um componente emocional. Talvez os divirta. Votaram nele, não tomou o poder pela força, mas depois tornou-se muito louco, e isso, combinado com os problemas financeiros, acabou com ele.
P. Você tem uma idade parecida com ele, mas tem uma vida mais tranquila, sim?
R. Estou casado há 15 anos, tenho um filho de 12 anos e outro de 13, vou levá-los para a escola, vivo uma vida de classe média, fico em casa, ensaio clarinete e faço ginástica na minha máquina de escrever.
P. Li recentemente um escritor que disse que Nova York está morta.
R. Continua a ser o centro cultural do mundo. O povo de Paris e Londres ainda quer viver lá. Está cheia de música, teatro, arte, moda, política, jornalismo, tem tudo. A única coisa que tem diminuído nos últimos 15 anos é o crime. Quando vejo Paris, Roma, cidades maravilhosas, e volto para Nova York noto como é grande, vejo que há duas vezes mais energia, esse ruído nervoso, essa maravilhosa excitação.
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