Mas, também é verdade que um dos mais antigos festivais brasileiros – o único que acontece ininterruptamente -, ainda mantém seu espaço institucional de destaque como representação do cinema nacional. Há pouco mais de 10 anos, Gramado também é latino. O chamamento de películas continentinas foi justamente uma tentativa dos organizadores para recuperar prestígio, repercussão e espaço.
Polêmicas à parte ( sobre a importância de Gramado veja o artigo do crítico Luiz Carlos Merten), o Festival tem hoje à noite um dos seus grandes momentos, quando para em homenagem a atriz Fernanda Montenegro. A majestosa dama da dramaturgia brasileira receberá o Troféu Oscarito pelo conjunto da sua obra. Reconhecimento mais do que absolutamente justo.
Fernanda concedeu uma entrevista ao site ( aliás, bem fraquinho ) oficial do Festival. Trechos abaixo. "Hoje o fomento da cultura está quase que totalmente nas mãos do governo", diz ela.
Festival de Cinema de Gramado: A senhora já recebeu muitos prêmios ao longo dos 65 anos de carreira, sejam eles no teatro, televisão e cinema. Agora a senhora recebe o Troféu Oscarito, grande prêmio em Gramado. O que representa esta distinção?
Fernanda Montenegro: (risos) era o que faltava na minha coleção. Ainda mais um troféu que leva esse nome. Na minha adolescência, cresci acompanhando Oscarito. O Festival de Gramado é um dos grandes festivais do Brasil e do mundo e receber essa honraria é muito importante para mim. Muitas pessoas que gosto e admiro já receberam essa troféu: Domingos de Oliveira, Paulo José, Grande Otelo e outros tantos colegas que acreditam na sua arte. Agradeço, de coração mesmo, esse prêmio.
FCG: Muitas pessoas se referem a Fernanda Montenegro como a ‘Grande Dama’ da dramaturgia brasileira. Mas esse, na verdade, é um título que a senhora não gosta muito. Por quê?
FM: Na verdade sou uma atriz. Sou uma atriz que ama o que faz e existem tantas outras atrizes e atores que também fazem seu trabalho com amor e porque gostam do que fazem. Olha a Bibi Ferreira, por exemplo: ela canta no teatro agora, aos 88 anos, melhor do que cantava antes. Então esse título não me agrada realmente porque tantos outros o merecem. Aqui no Brasil muitos intérpretes estão ‘ombreados’ como os demais países do mundo . Sou simplesmente uma atriz.
FCG: Sua carreira é baseada no teatro, mas a senhora trabalhou bastante nas radionovelas, na televisão e no cinema. O que mudou na forma de se interpretar ao longo da sua carreira?
FCG: Nem sempre é fácil se produzir arte no país. Conseguir financiamento é uma tarefa árdua. Para realizar hoje, o artista precisa de quê?
FM: Precisa de persistência. Hoje o fomento da cultura está quase que totalmente nas mãos do governo. E isso, na verdade não seria um problema. O problema é que os produtores estão na mão de avaliadores , quer dizer, ficam nas mãos de terceiros que decidem se seu projeto pode ou não receber apoio para ser realizado. Esse pode ser um processo um pouco demorado, que pode desmotivar os artistas. A análise do que pode, do que vale a pena ou não ser aprovado, do que pode gerar um bom resultado econômico nos deixa de mãos atadas. O artista fica entregue a isso. Submeter a sua criação ao crivo de uma comissão. O artista realmente fica entregue nesta situação.
Continua Festival de Gramado
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