terça-feira, 30 de agosto de 2011

Os censores de Pequim


Os caminhos de Lady Gaga, Walter Salles e dois anônimos blogueiros chineses se cruzaram nos últimos dias no paranoico e labiríntico universo dos censores de Pequim, que se consideram imbuídos da nobre missão de decidir minuto a minuto o que pode e não pode ser lido, visto e ouvido pela maior população do mundo.


O zelo é extremo, mesmo quando o público potencial é reduzido, como no 2˚ Festival de Cinema Brasileiro na China, marcado para novembro em Pequim e Xangai. Dos 16 filmes apresentados pela curadora da mostra, a Annamaria Boschi, 6 foram vetados pela Administração Estatal de Rádio, Filme e Televisão, entre os quais “Linha de Passe”, dirigido por Salles e Daniela Thomas. 

O organismo é responsável pela aprovação do conteúdo de tudo o que é exibido no país e tem a missão de “proteger” o público de programas que ofendam “sensibilidades chinesas” ou desafiem a autoridade do Partido Comunista. Ao lado de “Linha de Passe” também foram barrados “Dzi Croquettes”, “O Bandido da Luz Vermelha”, “Mangue Negro”, “Cabeça a Prêmio” e “Uma Noite em 67”.

O difícil é imaginar como os censores definem “sensibilidades” comuns na diversa população de 1,3 bilhão de chineses, que não é consultada antes de os burocratas definirem a programação cultural a que terão acesso…

Annamaria recebeu a lista dos filmes vetados e aprovados na sexta-feira, quando estava no Brasil. No dia seguinte, outro braço da máquina da censura chinesa divulgou em Pequim uma lista de 100 músicas que terão de ser excluídas de todos os websites do país, incluindo seis gravadas por Lady Gaga, que aparecem no “index” ao lado de uma inócua canção lançada pelo Backstreet Boys em 1999, “I Want it That Way”. A lista foi anunciada pelo Ministério da Cultura e faz parte de uma política adotada há dois anos com o objetivo de proteger a juventude chinesa do “mau gosto e vulgaridade” na internet, além de combater a pirataria no mundo virtual (no real das ruas chinesas, ela corre solta).

No fim de semana, os censores também apertaram o torniquete das informações que circulam no Weibo, a versão chinesa do Twitter, que tem um total de 200 milhões de usuários nos portais Sina e QQ. Além de receberem visitas de chefões do Partido Comunista nos últimos dias, as duas empresas enviaram circular a seus usuários na qual afirmam que é proibida a divulgação de “rumores” online. O Sina também suspendeu por um mês dois blogueiros que postaram informações posteriormente desmentidas.

Continua blog O Tao da China - Cláudia Trevisan



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