terça-feira, 26 de abril de 2011

"Rosebud", 70 anos

No próximo dia 1º de maio faz 70 anos que foi exibido pela primeira vez, seguramente, um dos filmes mais cultuados da história do cinema.
Nova York, naquele 1941, talvez não soubesse que estava acompanhando a estreia do que muitos consideram o filme mais influente de todos os tempos.
Orson Welles, com seu "Cidadão Kane", revolucionava conceitos, mas, principalmente, lançava novas técnicas cinematográficas com aquela película.
Jean-Paul Sartre, por exemplo, foi um desses que não percebeu. O crítico e estudioso Luiz Carlos Merten conta em seu livro Cinema - Entre a realidade e o artifício, que o grande escritor francês bateu duro.
Sartre, que se escondia da II Guerra nos EUA, escreveu para a revista Écran Français que o sucesso do filme só podia ser explicado por conta do provincianismo americano.
Em 2002, críticos norte-americanos e ingleses o escolheram como o melhor filme de todos os tempos. Até então "Kane" empatava com "Encouraçado Potemkin", de Sergei Eisenstein, diretor e teórico que também fizera revolução, em 1925. Atualmente, o russo está apenas entre os 10 mais influentes.
Suas inovações - novos enquadramentos com primeiro, segundo e terceiros planos, câmeras de baixo para cima, entre várias outras -, não superadas e copiadas até hoje, ajudaram a construir o mito. E não só a misteriosa história do menino Charles Foster Kane que nasceu pobre, virou poderoso milionário e morreu abandonado.
Para desenvolver a trama, Welles usa um enigma como fio condutor: "Rosebud", a palavra que começa e termina a película e que ninguém consegue saber o significado
O sucesso contou ainda com outros impulsos. Charles Kane, interpretado pelo próprio Welles, é rico por herança, mas o brinquedinho que ele mais gosta é o poder ocasionado em ser dono de uma rede de jornais e rádios.
Isso fez com que um personagem real à época, o bilionário William Randolph Hearst, dono de um império de comunicação nos EUA, acreditasse que o biografado era ele. O dono do The Examiner jogou, literalmente, sua pesada influência sobre a RKO.
Não conseguiu, mas, inicialmente, causou estragos na reputação de Welles. Hearst, conta Merten, entre outros argumentos para comprovar a tese, tinha um quase imbatível.
"Botão de rosa" era como ele carinhosamente apelidara a vulva da sua amada amante, uma atriz chamada Marion...
O que se vê hoje é que Hearst, além de não conseguir destruir os negativos como queria, queimou o seu próprio filme e ajudou a colocar mais lenha na imagem do mito.
Juntando tudo isso é fácil entender por que "Citizen Kane" está na galeria dos insuperáveis.
Se você gosta de cinema ou é apenas curioso, vale a pena comemorar esse aniversário e ter uma “aula” de linguagem cinematográfica. O filme é encontrado em boas locadoras. Algumas versões são acompanhadas de documentário sobre o diretor e a sua obra.

Aqui, os dez primeiros minutos de abertura

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