O ingresso foi comprado com antecedência. O objetivo era o melhor lugar, aquele onde o olhar fica diretamente no centro da tela, o que é possível graças à inclinação das modernas salas.
Depois, nada como matar o tempo com um café expresso na livraria, ler uma ou outra orelha, conferir os títulos de filmes em oferta e os lançamentos em blu-ray, ainda caríssimos.
Dez minutos antes do início da sessão, já sentado, aclimatando com a temperatura e observando o movimento, abstraindo o andar de pipocas e xaropes gaseificados, eis que adentram duas senhoras bem apessoadas.
Mesmo do alto, é possível observar que carregam duas sacolas plásticas. Talvez sugestionado, a primeira impressão é que poderiam ser livros. Mas, carregavam aquilo com tamanho cuidado, segurando com as duas mãos, que logo a ideia foi descartada. Uma pena.
Alguns segundos depois, já bem mais perto, é possível identificar por trás do plástico transparente que são duas marmitex prateadas com tampa de papelão, aquelas de lojas de comida congelada.
Elas não param de subir. A dúvida aumenta. Comida congelada não poderia ser, o filme é um longa. Comida quente?? Será que os talheres estariam nas bolsas? É, poderiam, elas são grandes.
Duas fileiras abaixo, no corredor, sentam-se. Não havia mais ninguém e as poltronas ao lado servem para acomodar bolsas. Imediatamente, o barulho do plástico. As luzes ainda estão acesas. Espichando o pescoço, desviando da calva imediatamente abaixo, é possível ver movimentos apressados.
Apagou luz. Começa aquele desenho animado sobre segurança, desligar o celular, que ninguém dá bola. As retinas estão acostumando-se e vai dar para ver o que sairá lá de dentro.
Não precisa. A sala é inundada por um cheiro impossível de não reconhecer: molho de cachorro quente, maionese e mostarda.
É o fim. Agora, além do cheiro de gordura saturada, molho de tomate. Os cinemas vão exigir em breve o uso de máscaras cirúrgicas. Daquelas que os japoneses estão usando em Fukushima. Espera-se, com distribuição obrigatória determinada em Lei.
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