Ruy Castro lançou a discussão, e o manifesto, na sua crônica de sexta, 04, na Folha SP, com grande chance de prosperar.
O gancho é trágico: "Em Riga, Letônia, há duas semanas, Agars Egle, 42, profissão indefinida, foi morto dentro de um cinema por estar fazendo barulho ao comer pipoca durante uma sessão do filme "Cisne Negro". Sentindo-se incomodado, um vizinho de poltrona, o advogado Nikolajs Zikovs, 27, silenciou-o com um tiro de pistola".
Espera-se que sirva apenas de alerta e não de exemplo. Tenha sido apenas um gesto movido a vodka.
Sem titubear 10 segundos: comida dentro da sala de projeção é o fim e deve ser proibida. Antes do manifesto, achava que podia ser banido da blogosfera se escrevesse isso. Fiquei mais valente.
Além do som de britadeira, como lembra Castro, temos os inconvenientes agregados. Não esqueçamos o sinfônico ronco dos canudinhos, depois daqueles litros de xaropes gaseificados, e o cheiro de gordura.
Meu radicalismo bateu no auge recentemente, em pleno "Inverno da Alma", quando um jovem casal irrompe com dois saquinhos do McDonald's. Que, diga-se, nada tem a ver com isso.
Não é uma campanha simples, além de ser totalmente na contramão do que as grandes redes têm feito. Quem conhece as novas, luxuosas e confortáveis, salas "premium" sabe que a batalha exige determinação e unidade.
Nessas, onde o ingresso custa, em Brasília, 44 reais, têm até garçonetes para entregar os pedidos feitos na entrada, inclusive champanhe.
Claro, sem cheiro de mofo, confortabilíssimas, poltronas reclináveis e com largura suficiente para acomodar um casal mais magrinho e afoito.
Pelo preço, são geralmente imunes às galeras. O problema é o serviço de bordo. Não me iludo. Não é um manifesto popular e de grande futuro.
Lembro que eu sempre achei um absurdo, "coisa de velho", o meu avô não deixar, para desespero do seu Tomezinho, o porteiro, ninguém entrar com pipoca no Cine Lux.
A única carrocinha de pipoca de Caçapava (RS) ficava estacionada em frente ao cinema, precisamente em frente a bilheteria. Mas consumo, só na rua. Não importava o Minuano.
Refrigerante também não. Nesse caso nem era por causa dos canudinhos. Naquela época as lancherias da cidade, como o Meu Cantinho, do Jacó ou do Luizinho, que ficavam perto, só vendiam refrigerantes em garrafas de vidro retornáveis.
Entre os banidos ainda estavam as gomas de marcar. E não era porque, naquela época, chiclete, quando engolido, fazia tão mal ao intestino quando melancia com leite, apenas no sentido inverso.
Mas sim para dificultar a vida dos engraçadinhos que faziam bolinha para estourar e tinham esquecido de comprar. O segundo argumento era para não sujar o assoalho.
Mesmo assim, a Morena, uma negra imensa, roliça, de transparentes dentes brancos, e a Eva, responsáveis pela limpeza, andavam com duas espátulas para raspar o chão de madeira em caso de emergência.
Na bonbonnierè, sortida de chocolates e balas, só os chicletes Adams, aqueles das caixinhas de papelão e que não faziam bolinhas.
Outro dificultador, como lembra Castro, são as receitas que as toneladas de pipoca e os hectolitros de xarope representam no faturamento.
Certamente as exibidoras compensariam a queda na arrecadação via aumento no já alto e impopular preço do ingresso.
Uma solução que pode ser evoluída é na linha das leis que regem hoje os fumantes. Criariam-se salas especiais onde comer pipoca, sanduíches em geral e beber xarope estaria liberado.
Eu não como no cinema e não consigo entender porque as pessoas se armam de pipoca, chocolate, refrigerante e quetais para duas horas, no máximo duas horas e meia de filme. E agora é um entra e sai da sala pra reabastecer o bunker que enche o saco.
ResponderExcluirNãooooo!!!! Ver filme sem pipoca não tem graça. =)
ResponderExcluirAna disse: Podíamos, no mínimo, fazer um abaixo assinado. Outra opção seria faturarmos encima dos pipoqueiros: vender saquinhos de pano, que não fazem ruído. E só podem entrar com pipoca para o trailer, depois que o filme começar fica proibido mastigar.
ResponderExcluirRiomar Trindade disse: É uma boa. Mas no lugar do xarope, poderia ser um chope.
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