sábado, 29 de janeiro de 2011

Caminhos abertos, artigo de Cacá Diegues


O GLOBO - OPINIÃO

CACÁ DIEGUES

Quando minha geração começou a fazer cinema, entre o final dos anos 1950 e o início dos 1960, com umas duas dezenas de títulos a gente dava cabo de sua história. Os filmes que tinham circulação universal vinham apenas dos Estado Unidos e de mais alguns países da Europa Ocidental. Havia uma cinematografia em outras poucas nações, mas ela só tinha circulação doméstica, como os melodramas mexicanos na América Latina, ou, vez por outra, ondas sem presença permanente, como no caso da produção japonesa. 

Costumávamos ver a produção alternativa em festivais ou nas cinematecas do mundo, como a de Paris MoMA de NovaYork, quando por essas cidades passávamos. Na primeira vez que fui a Paris, com 23 anos de idade, passei 45 dias enfurnado na cinemateca de Henri Langlois, vendo três filmes por dia e me alimentando de baguetes de presunto e queijo, que adquiria às pressas no café da esquina. Estamos falando, é claro, de uma época em que não havia vídeo-doméstico, nem filme na televisão.

Hoje, graças ao sucesso universal do cinema e às novas tecnologias, filma-se em todo lugar do mundo, da Coreia do Sul à Romênia, do Burkina Faso ao Equador. E, quase sempre, em todas as camadas sociais de cada um desses países. De um modo ou de outro, esses títulos também circulam pelo mundo afora e agora, para conhecer a história do cinema, não bastam apenas 200 filmes ou o confinamento temporário numa cinemateca, mas anos de dedicação total.

Ao contrário do que imaginávamos, em vez do domínio exclusivo de uma cultura mais forte, o mundo assiste a uma variada produção cultural de origem diversa, vinda de grandes ou pequenas comunidades criativas de artistas que procuram se impor através de sua singularidade. As fronteiras que se abriram para a importação da cultura hegemônica se abriram também para a exportação dessas singularidades. 

Não podemos mais distinguir os filmes pelos gêneros clássicos e, daqui a muito pouco tempo, também não conseguiremos mais distingui-los por nação. As nações não deixarão de existir e estarão presentes nos filmes; mas, através do cinema, elas revelarão sua diversidade natural e se confundirão. O filme de um imigrante árabe francês será (e já é) muito mais parecido com o de um cineasta operário do Sul dos Estados Unidos do que com os de um Luc Besson ou os de um Christophe Honoré.

Para tentar entender esse fluxo do cinema contemporâneo, podemos dizer que, diante de tanta novidade histórica, estética e tecnológica, os filmes avançam para seu público em quatro diferentes nichos de difusão.

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