sábado, 19 de maio de 2012

Cacá Diegues: Arte e cultura em Cannes

Deixem nossos artistas trabalhar em paz

CACÁ DIEGUES

Como já saiu nos jornais, estou em Cannes, presidindo o júri da Caméra d’Or (Câmera de Ouro), prêmio que o festival outorga ao melhor primeiro filme exibido em qualquer uma de suas plataformas (Seleção Oficial, Un Certain Regard, Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica).

Gosto de estar em Cannes e gosto do que vim fazer aqui. Cannes é uma festa do cinema organizada para a glória de quem o pensa e o faz, os próprios cineastas. Na abertura do festival, nessa quarta-feira passada, estavam presentes todas as estrelas de “Moonrise Kingdom“, o filme inaugural, e a multidão de fotógrafos profissionais e amadores se fartou de registrar a passagem de Bruce Willis, Ed Norton, Bill Murray e os outros pelo tapete vermelho. Mas, no momento em que todos eles entraram na sala de projeção, a voz de um locutor oficial anunciou a presença apenas de Mr. Wes Anderson, o jovem diretor do filme.

Bem, é verdade que, fora do Palácio do Festival, a cidade é dos que vieram aqui para fazer negócios, comprar e vender filmes, montar produções internacionais, trocar informações sobre os mercados, essas coisas. São esses os homens de cinema que agitam o festival, que pagam seu luxo com o que deixam em Cannes e na França em troca de hotéis de várias estrelas, almoços e jantares à beira do Mediterrâneo, happy hours, festas suntuosas e a Coca-Cola a dez dólares a garrafa.



A iniciativa do prêmio Caméra d’Or não tem nada a ver com isso. Ele existe para estimular o rejuvenescimento das ideias cinematográficas pelo mundo afora, pondo em destaque os cineastas que estreiam no longa-metragem e que tiveram seus filmes selecionados para alguma sessão do festival. Pela lógica natural das coisas, são sempre os novos cineastas os responsáveis pelas novas tendências cinematográficas e o Caméra d’Or é uma oportunidade única para descobri-las. Por isso aceitei correndo o convite de Gilles Jacob e Thierry Frémaux para presidir seu júri.

Quando escrevo esse texto, ainda não assistimos a nenhum dos concorrentes ao prêmio. Mas já tenho comigo a lista dos 25 filmes que veremos ao longo dos próximos 10 dias e só me deparo com nomes dos quais nunca ouvi falar, alguns deles vindos de países sem nenhuma tradição ou mesmo curta história de cinema. Confirmo com entusiasmo e muita expectativa que o mundo se alfabetiza audiovisualmente, filma-se de todas as maneiras, em todos os cantos do planeta.

Esse 65 Festival de Cannes também homenageia o cinema brasileiro, exibindo três de nossos filmes em sua sessão de classics, filmes antigos que já passaram por esse ou outros festivais importantes, como “Ópera do Malandro”, de Ruy Guerra, “Cabra marcado para morrer”, de Eduardo Coutinho, e o meu “Xica da Silva”, agora restaurado pela Cinemateca Brasileira. Além desses filmes, será exibido também “A música segundo Tom Jobim”, o belíssimo documentário de Nelson Pereira dos Santos, selecionado oficialmente, fora de competição.

Até onde pude acompanhar, a imprensa brasileira não está dando muita bola para a representação nacional na competição oficial de Cannes. Lá está, concorrendo à Palma de Ouro, o filme “Na estrada”, dirigido pelo nosso Walter Salles.

Continua O Globo

CineLUX: Cacá Diegues presidirá o Caméra d’or

Festival de Cannes 2012

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