sexta-feira, 16 de março de 2012

"Um estranho Almodóvar"

Foto: divulgação
por Luciano Buarque de Holanda

do Valor Econômico

Pedro Almodóvar nem precisava deixar sua zona de conforto. Por décadas, ele vem se provando fecundo e invariavelmente consistente dentro de um mesmo leque temático/estético. Em "A Pele Que Habito", porém, o espanhol mostra que pode sobreviver longe de fórmulas próprias, se quiser.

O filme lida com identidade sexual, loucura e tragédia; mostra uma família novelesca; mulheres geniosas, intensas. Até aí nenhuma novidade - o que é bom, pois o drástico desvio de rota de "A Pele Que Habito" pede alguma coerência autoral. Dispensando o colorido vibrante e, em parte, o tom "kitsch", Almodóvar explora o horror psicológico, citando Mario Bava, Dario Argento e, em especial, o cult francês "Les Yeux Sans Visage" (de Georges Franju). Há um "feeling" hitchcockiano que serve de ponte ao prévio "Abraços Partidos", mas esse filme de 2009 em nada antecipa o teor mórbido de "A Pele Que Habito".

Livre adaptação da novela "Tarântula", de Thierry Jonquet, a trama é uma espécie de "Frankenstein" dos tempos modernos, tendo no lugar do monstro uma bela mulher (Elena Anaya, de "Um Quarto em Roma"). Ela vive num cativeiro "high tech", monitorado por câmeras de segurança; passa o dia lendo, costurando ou fazendo ioga, permanentemente vestida numa segunda pele. Ela se chama Vera e foi criada à imagem e semelhança da finada mulher de um perturbado cirurgião plástico, Dr. Ledgard (Antonio Banderas, em sua primeira parceria com Almodóvar em 20 anos).

Continua
Valor Econômico

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