Madonna na pré-estreia |
Alek Keshishian, que escreveu o filme junto com a artista, fala ao 'Estado' sobre as referências da pop star na direção e no roteiro do longa-metragem que estreia nesta sexta
Luiz Carlos Merten - O Estado de S.Paulo
Alek Keshishian está começando a escrever o novo filme de David Fincher, após Millenium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres. Diretor do documentário Na Cama com Madonna, de 1991, ele escreveu, com a popstar, W.E. - O Romance do Século, que estreia nesta sexta-feira. Retificando - na civilização da imagem, o rótulo “popstar” tende a carregar uma conotação pejorativa. É melhor referir-se a ela como “a artista”. “Engana-se quem pensa em Madonna como uma baladeira. Quando ela não está em turnê, fica em casa toda noite, vendo filmes. É a maior cinéfila que conheço.”
E Keshishian diz mais - “Ela conhece mais filmes que você e eu juntos. Não vou dizer que é uma especialista no cinema francês por volta de 1960, mas são seus filmes favoritos. Em seu iPad, durante a realização de W.E., ela tinha cenas de cerca de 50 filmes que podiam ser referências. Boa parte deles era de filmes de Godard.” Madonna pretensiosa, vai pensar o leitor. Keshishian corrige - “É ambiciosa”. W.E. é um filme ambicioso - como linguagem, reflexão. Além de Jean-Luc Godard, o iPad da artista incluía outro filme que foi fundamental em W.E., Crescei-vos e Multiplicai-vos, The Pumpkin Eater, de Jack Clayton.
É um filme sobre a crise de um casal, escrito pelo futuro Prêmio Nobel Harold Pinter e interpretado por Anne Bancroft e Peter Finch. “Nenhum crítico sacou. A maioria não tem cultura. Tenho certeza de que Pauline Kael teria percebido.” O roteirista não está defendendo seu pão. Ninguém é mais crítico que ele. “Não estou muito seguro de que o que era experimental na nouvelle vague seja a melhor opção estética para o que não deixa de ser uma história de amor tradicional, a de Wallis Simpson e Edward VIII. Mas foi uma escolha dela e, para quem consegue ver o filme sem preconceito, é muito coerente.” A seguir, a entrevista com Keshishian, feita pelo telefone, de Los Angeles.
Não sei nos EUA, mas no Brasil a crítica tem reagido muito mal a W.E. Se eu lhe disser que a chamam de incompetente, o que você me responde?Não vou ofender ninguém, mas se há uma coisa que Madonna não é, em nada do que faz, é incompetente. Ela é ambiciosa. E ousa. Entendo que, nesse sentido, muita gente poderá dizer que W.E. é um equívoco autoral. Eu não acho. Não é meu filme. Com certeza o teria feito diferente. Mas acho importante que ela esteja disposta a arcar com suas convicções.
A maneira mais fácil de ver W.E. é buscar nas duas épocas do filme, na história de Wallis e Edward e na de Wallis e Evgeni, simplesmente um reflexo da condição de Madonna como celebridade. Mas ela deve ter pensado nisso, não?Não quero forçar a barra citando Adorno, que refletiu sobre os conceitos do sujeito e do objeto, mas a vida de Madonna tem sido um embate entre o sujeito que ela sabe ser e o objeto em que a mídia tenta transformá-la. Madonna já usou a mídia para se promover e isso gerou uma relação de amor e ódio. Em W.E. ela tinha clara a dualidade e a expressou nas duas Wallis. A que levou o rei a renunciar e a outra, contemporânea, infeliz no casamento, e que elege a primeira como objeto de estudo.
Continua O Estado de São Paulo
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