sexta-feira, 23 de março de 2012

"La Piel que Habito", Almodóvar em estado puro

Quem não viu na telona ou quer rever, já está nas locadoras “A Pele que Habito”, o Almodóvar mais recente. Realizado com todo charme, e técnica, que o cinema moderno pode reunir, é um desafio ao bom gosto, ao senso comum e a ética médica.

Inspirado em "Tarântula", obra do escritor Thierry Jonquet, o cineasta vai fundo na questão das alterações genéticas que a ciência pode produzir, para o bem e para o mal.

Ruim de crítica, mas Almodóvar em estado puro, a película mostra toda a categoria que o sempre polêmico, incômodo e surpreendente diretor espanhol tira da cartola. Categoria e técnica cinematográficas das mais apuradas entre os grandes diretores atuais.

Não falta nada em “La Piel que Habito”. Desde as tomadas de cena irrepreensíveis, compostas por seus característicos contrastes, mesmo quando não usa cores vibrantes o tempo todo, cheias de detalhes, música absolutamente integrada, sob o comando de Alberto Iglesias, tudo coroado com quatro interpretações fortes, complexas, destacáveis, para argumento e roteiro provocadores.

Começando por Antonio Banderas na “piel” do dr. Robert Ledgard. Um renomado cirurgião plástico que tem na vida com a mulher e a filha um sucesso inversamente proporcional ao que conquistou como profissional. Seus fracassos pessoais são a chave para a evolução da trama.

Quem acompanha Almodóvar com certeza vai encontrar referências de obras anteriores, mesmo sem qualquer flashback, em “La Piel...”. Banderas, por exemplo, parece que saiu diretamente de “Ata-me!” para dar continuidade ao personagem atual, doze anos depois de ter protagonizado o primeiro.

A ainda pouco projetada Elena Anaya, no papel de Vera, sustenta muito bem o crescimento da personagem. Já a veterana atriz espanhola e em filmes de Almodóvar, Marisa Paredes, engrandece o coadjuvante, mas fundamental, papel de Marilia, a governanta que viveu na Bahia e teve um filho traficante no Brasil.

Aliás, além dessa referência, com direito a uma rápida cena que parece ser em uma das nossas favelas, o Brasil ganha outras duas. Em uma das músicas do filme, “Por El Amor de Amar”, cantada em português por Ana Mena, e na exposição de um Tarsila do Amaral. Lembrando que Caetano Veloso canta em “Hable com Ella”, de 2002.

“Paisagem com pontes” está entre os diversos e requintadas quadros de Tiziano, Jorge Galindo, Alberto Vargas, entre outros, que decoram a clínica-residência El Cigarral, onde o dr. Ledgard faz as suas “pesquisas”.
Concentre-se, respire fundo e não deixe de enfrentar mais essa provocação de Pedro Almodóvar. 

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