sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A história do cinema: Itália


A história do cinema pelas lentes de Cannes hoje é dedicada à Italia, que mereceu dos organizadores uma divisão em três períodos, de 1946 a 1959, de 1960 a 1999, e de 2000 a 2010. 

POR LORENZO CODELLI * 

Anna Magnani
A seguir à guerra, a Itália foi tocada pela destruição e a miséria, mas alimentava a grande esperança de se recompor moral e materialmente. Emergem características que encontramos no movimento neo-realista. A redescoberta sem concessões das contradições sociais reflecte-se em duas obras inovadoras principais seleccionadas durante a edição 1946 do Festival: 

Roma, città aperta, de Roberto Rossellini, que recebe um Grande Prémio, e Il Bandito de Alberto Lattuada. Os outros três filmes italianos na luta representam uma tradição consolidada dos géneros populares: o melodrama musical Amanti in fuga, de Giacomo Gentilomo, Le miserie del signor Travet, adaptação teatral da autoria do eclético Mario Soldati e Un giorno nella vita, drama religioso de Alessandro Blasetti, encenador incontornável no regime fascista. Na Croisette, Rossellini atrai imediatamente as excelentes críticas de La Revue du cinema, bem como os elogios de Georges Sadoul. 

O encenador, então quadragenário, lamentará nas suas memórias a falta de atenção prestada pelas autoridades italianas e pelo público. Contudo, é realmente a sua passagem por Cannes que lhe permitirá criar em Paris este núcleo duro de adeptos que o acompanham fielmente durante vários anos, fazendo até cair no esquecimento as obras de propaganda fascista que realizara uns anos antes. Por entre os argumentistas de Roma, città aperta, encontramos o seu aluno predilecto, Federico Fellini, que aos 26 anos já fizera um nome como escritor e desenhador satírico. 




Participa também Dino De Laurentiis, 27 anos, que produziu para a Lux Film o filme de Soldati, bem como o de Lattuada. Por entre as curtas-metragens do ano de 1946, Bambini in città, extraordinária reportagem sobre a infância sem esperança de Luigi Comencini, então com trinta anos de idade. 

Nos anos seguintes, esta última secção do Festival permite descobrir vários autores destinados a uma brilhante carreira, desde o documentarista Luciano Emmer ao influente crítico Gian Luigi Rondi, passando pelo futuro especialista de filmes históricos, Pietro Francisci, o historiador do cinema Domenico Paolella ou ainda o iniciante Michelangelo Antonioni. 


Continua Festival de Cannes

* Lorenzo Codelli é jornalista e historiador, colaborador do Festival de Cannes, da revista Positif, da International Film Guide e de outras publicações.

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