quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A história do cinema: Coréia


POR LEE CHANG DONG*

Arirang, 1926
Um jovem coreano abandona a sua aldeia, amarrado por uma corda puxada por um polícia japonês. Matou com golpes de foice o capanga de um proprietário sádico que martirizava os aldeões. Assim termina o filme de Na Un-gyu, intitulado Arirang. A lenda conta que quando este filme saiu, em 1926, ou seja, sob a ocupação japonesa, os espectadores coreanos choravam nas salas de cinema cantando em coro o cântico folclórico intitulado “Arirang”.

Este filme, considerado actualmente como aquele que marcou os verdadeiros inícios do cinema coreano, é bastante representativo de uma das suas principais características, pois constitui o reflexo do contexto e da realidade social da altura, sendo ao mesmo tempo portador dos sentimentos e aspirações do espectador. 

The Ownerless Ferryboat, 1932
Quanto a Lee Gyu-hwan, outra celebridade da época dos filmes mudos, evoca no seu filme The Ownerless Ferryboat a cólera do povo, vítima das exacções do imperialismo japonês, colocando em cena um bateleiro que mata um engenheiro dos caminhos de ferro. Por fim, História de Chunhyang (1935), primeiro filme coreano falado, é uma adaptação de um romance clássico, mas que evoca também o sofrimento e a tristeza dos contemporâneos.

Nos anos 1960, após o período de destruições maciças desencadeadas pela guerra da Coreia (1950-1953), que seguiu de perto o fim da colonização japonesa (1945), cineastas como Shin Sang-ok, Yoo Hyon-mok, Kim Soo-yong, Kim Ki-young ou Lee Man-hee permitem aquilo a que chamamos de “Renascimento” do cinema coreano. 

Os talentos deles exprimem-se através de uma grande variedade de registos que vão das obras de autor aos filmes de grande público, tendo este conjunto em comum o facto de reflectir a realidade social e de se apresentar como porta-voz do povo coreano.

Esta tradição artística, que poderíamos qualificar de “realista”, conhece no entanto um parêntesis nos anos 1970 devido à severa censura instituída pelo regime ditatorial da altura. Sob a vigilância e o controlo que exerce, apenas são autorizados melodramas, filmes de acção sem enraizamento local, ou ainda obras de propaganda com a única função de preencher a quota necessária para poder importar filmes estrangeiros. No campo industrial, mas também do ponto de vista da qualidade artística, o cinema coreano mergulha inevitavelmente numa depressão da qual dificilmente sairá.

O Sonho de Bae Chang-ho, 1990
No início dos anos 1980, Bae Chang-ho e Lee Jang-ho, e depois em meados da década, Park Kwang-su e Jang Sun-woo, voltam a gravar a realidade em película em estilos que lhes são próprios, saindo assim o cinema nacional de uma longa letargia. Im Kwon-taek, mais velho, junta-se a eles nesta regeneração e produz obras marcadas por uma grande modernidade que o distingue da sua geração.

* Lee Chang Dong é argumentista e realizador. Recebeu o prémio do argumento para Poetry, apresentado na Competição em Cannes em 2010.


Continua Festival de Cannes

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