sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A história do cinema: Espanha


Claude Lelouch, Jean-Luc Godard, François Truffaut,
Louis Malle e Roman Polanski, Cannes, 1968.
POR DIEGO GALÁN *

Vários cineastas invadem o palco para interromperem a projecção do filme do dia.Estamos em Maio de 1968, quando as ruas estão cheias de estudantes que vieram protestar para acabarem com um modelo de sociedade que consideram obsoleto e injusto, e os cineastas mais sensíveis apoiam esta causa perpetuando, no mundo do cinema, as reivindicações dos estudantes e operários. O Festival tem de se juntar à revolta popular… e desaparecer.

Jean-Luc Godard, François Truffaut e Louis Malle, entre outros, agarram-se às cortinas para impedirem a projecção prevista nesse 19 de Maio. Trata-se de Peppermint frappé, um filme espanhol de Carlos Saura, (produzido por Elías Querejeta) com Géraldine Chaplin que se junta a eles para interromper a projecção que se vai iniciar. Mas ao ver Géraldine Chaplin no palco, Godard compreende que a actriz deseja defender o seu filme e na luta, acaba por lhe dar um murro... que deixa a filha de Charles Chaplin com um dente a menos. Hoje em dia, a actriz fala disso com humor, mas na altura hesita por instantes em andar aos murros com o realizador suíço.

SAURA E BUÑUEL

Naturalmente, nem todas as participações espanholas no Festival de Cannes terminam ao murro, muito pelo contrário. Muito frequentemente, embora talvez não suficientemente, os filmes espanhóis são propostos na selecção oficial (Competição, Un certain regard) ou nas secções paralelas. Carlos Saura conta, por exemplo, com dez participações no Festival, a primeira para apresentar a sua primeira obra Los golfos (1960). Na altura, trata-se de um jovem de 28 anos, preocupado com o realismo social e curioso perante a vida. 

É nesta edição do Festival de Cannes que faz amizade com Luis Buñuel, cineasta espanhol exilado no México e que apresenta o respectivo filme rodado em inglês The Young One. Quando, anos mais tarde, em 68, Saura volta a participar no Festival com Peppermint frappé, o seu registo expressivo é diferente e mostra uma certa liberdade, aliando assim a sua preocupação pelo realismo, a memória e os traumas provocados pela guerra civil à dialéctica entre o sonho e a realidade 1. Muitos vêem nesta alteração de estilo uma determinada influência de Buñuel, mas pensa-se sobretudo que os recursos dramáticos do cinema de Saura são uma forma de contornar a censura feroz do general Franco em Espanha.

* Diego Galán é crítico e historiador de cinema



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