Rodrigo Fonseca
O Globo

Inspirada no romance "Tarântula", do francês Thierry Jonquet (1954-2009), a trama está mais próxima da estética de vísceras de David Cronenberg e das ilusões sensoriais de Brian De Palma do que do colorido habitual de Almodóvar. E tem viradas de roteiro que, se contadas, estragam o fator-surpresa. O diretor relutou em aceitar o convite de Cannes para que ninguém revelasse quem é Vera (Elena Anaya), a mulher mantida como cobaia no laboratório onde o cirurgião Robert Ledgard (Antonio Banderas) faz experiências com corpos humanos (vivos). Mas, como tinha chances de levar a Palma de Ouro, Almodóvar acabou competindo. Só conquistou o Prêmio da Juventude e a láurea da Comissão de Técnicos de Cinema pela fotografia de José Luis Alcaine. De quebra, inflamou ânimos na mostra francesa.
- Meu filme se relaciona com o mito de Frankenstein. Mas o que me atraiu no livro de Jonquet foi a grandeza que ele dá ao tema da vingança - explicou Almodóvar ao GLOBO, durante o Festival de Cannes, sempre acompanhado por seu irmão Agustín, que produz todos os seus longas.
Obra-prima ou erro?
Tanto na Croisette quando em sua passagem pelo Festival de Toronto, há um mês, "A pele que habito" foi tachado como "o mais controverso trabalho de Almodóvar". A alcunha pegou depois que o "The New York Times" comparou suas técnicas para criar suspense à linguagem de Hitchcock e que Carlos Boyero, do jornal "El País", acusou a obra de incorrer no patético ao buscar o riso onde deveria haver tragédia. Há quem ache o filme uma obra-prima. Há quem o considere um erro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário