sábado, 15 de outubro de 2011

A história do cinema: China


As lentes de Cannes hoje ainda apontam para realismo do cinema socialista e contam a história da China comunista e as suas participações no Festival francês. O artigo chega também às produções de Hong Kong e Formosa. O blog publica os textos sem edição.

POR CHARLES TESSON *

Mao Zedong
Na 1ª edição do festival de Cannes, em 1946, no final da segunda guerra mundial, a China, após a derrota do Japão na guerra desde 1937, é devastada por uma guerra civil entre as tropas nacionalistas do Kuomintang de CHANG Kaï-Chek e as forças comunistas, tomando estas o poder em 1949 para originar a República Popular da China. Embora a Formosa tenha recebido com alegria a partida dos japoneses, a chegada dos nacionalistas e o respectivo exílio após a derrota em 1949 torna o seu destino sombrio. O governo provisório da República da China, nascido no continente em 1911, instala-se então na Formosa e decreta a lei marcial, levantada em 1986. Em contrapartida, embora Hong Kong, colónia britânica, tenha sofrido mais tardiamente a ocupação japonesa, encontra o seu estatuto de antigamente até 1997.

O cinema chega muito cedo à China, a Xangai, a partir de 1896, com os filmes dos irmãos Lumière, seguidos pelos de Edison no ano seguinte, mas há que esperar até 1913 para que seja rodada a primeiro longa-metragem, Um casal infeliz (ZHANG Sichuan). O ano de 1922 vê a fundação da Mingxing, a companhia mais importante da época com a Tianyi (os irmãos Shaw, mais tarde em Hong Kong). Depois dos dramas realistas, vem a moda dos filmes de sabres, género dominante dos anos 20. A partir de 1930, com a fundação da Lianhua, a ocupação da Manchúria em 1931 e os bombardeamentos de Xangai de 1932, abandona-se os filmes de divertimento para um cinema progressista tomado pela realidade.

Esta primeira idade de ouro (1931-1937) vê a chegada de estrelas feministas (HU Die, RUAN Lingyu) e uma segunda geração de cineastas talentosos: SUN Yu, CHENG Bugao, CAI Chusheng, YUAN Muzhi, WU Yonggang. A guerra contra os japoneses (1937-1945) quebra este desenvolvimento, com os que ficam em Xangai, os que se refugiam em Hong Kong ou se juntam à Longa Marcha. Apesar de perturbador, o período de guerra civil (1945-1949) origina belos filmes como Primavera numa pequena cidade(FEI Mu, 1948) e Corvos e pardais (ZHENG Junli, 1949).

"A Jovem Xiao Xiao"
A 3ª geração inicia-se com o nascimento da República Popular (SHUI Hua, LING Zifeng, SANG Hu, XIE Jin, XIE Tieli), que faz de Pequim o novo centro do cinema. Embora o cinema japonês e indiano façam as honras de Cannes, a China Popular mantém-se afastada. Os anos 60 são os da geração sacrificada (a 4ª) porque as suas carreiras serão travadas pela Revolução Cultural. Quando o cinema chinês retoma uma actividade normal a partir da segunda metade dos anos 70, Cannes aproxima-se da China. Em primeiro lugar, mostrando em 1979 (UCR) Primavera Precoce de XIE Tieli, realizado em 1963, antes da Revolução Cultural, e depois A Verdadeira história de Ah Q (1982) de CEN Fan, antigo actor e realizador de filmes de ópera nos anos 50, O Guardião de Cavalos (Mumaren, CR, 1983) do xangaiense XIE Jin, autor de Irmãs de Palco (1965), bem como de A jovem Xiao Xiao (UCR, 1987) de XIE Fei, da 4ª geração. 

O início dos anos 80 vê a chegada da 5ª geração, com Terra Amarela de CHEN Kaige (1984) e depois O Sorgho Vermelho de ZHANG Yimou (1987, Urso de Ouro em Berlim). ZHANG Yimou vai a Cannes com Ju dou (1990), início de uma longa relação que será retomada a partir de Viver (1994), com outros três filmes atéSegredo dos Punhais Voadores (FC, 2004). CHEN Kaige vai a Cannes com o seu 4º filme, A vida sobre um fio(1991), e o seguinte, Adeus minha concubina (1993), recebe a Palma de Ouro.


* Charles Tesson é crítico e historiador de cinema


Nenhum comentário:

Postar um comentário