segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A história do cinema: Estados Unidos


POR SCOTT FOUNDAS *


Uma verdadeira história de amor liga a América e a França: as Luzes, a Estátua da Liberdade, Jerry Lewis… Por conseguinte, não é de surpreender que os filmes americanos tenham revelado uma presença significativa na Croisette desde o início do Festival de Cannes. A primeira edição do Festival, em 1946, teve tudo de um anus mirabilis para Hollywood, já com oito produções americanas nos 44 filmes “em competição”, dos quais Meia Luz de Cukor, Difamação de Hitchcock, Farrapo Humano de Wilder (um dos nove filmes que partilharam o primeiro Grande Prémio do Festival, a mais alta distinção da altura) e Música, Maestro de Walt Disney, que marcou o início de uma longa tradição de filmes de animação na Selecção Oficial. Coincidência ou não? Nesse mesmo ano, o histórico acordo Blum-Burnes abriu os cinemas franceses a mais produtos americanos. Vive les États-Unis!*




Se Cannes tivesse começado em 1939, conforme previsto antes de a Segunda Guerra Mundial ter impedido esse projecto, O Feiticeiro de Oz e Pacific Express de Cecil B. DeMille teriam feito parte da primeira programação, entre outros tesouros deste grande ano da história de Hollywood. Quando uma Palma de Ouro de 1939 foi tardiamente atribuída em 2002, coube justamente ao filme de DeMille. Mas Cannes chegou amplamente cedo para aproveitar a Idade de Ouro de Hollywood...

    Crossfire                                  Um Americano em Paris       

Durante os finais dos anos 40 e início dos anos 50, os filmes provenientes de estúdios de prestígio e rodados por realizadores como Edward Dmytryk (Crossfire, O Fim da Aventura), Vincente Minnelli (Folias Ziegfeld, Um Americano em Paris) e William Wyler (História de um Detective, Sublime Tentação) chegaram à competição ao lado de um número surpreendente de filmes de género e de films noirs comoActo de violência (1948) de Fred Zinnemann e Nobreza de Campeão(1949) de Robert Wise, o tipo de filmes que os Franceses foram historicamente os primeiros a levar a sério. Após três anos agitados de produção, Othello, realizado de forma independente por Orson Welles, recebeu o Grande Prémio em 1952. No mesmo ano, Marlon Brando e Lee Grant receberam respectivamente os Prémios de interpretação masculina e feminina (para Viva Zapata! de Kazan e História de um Detective). Em 1953, o grande John Ford fez a sua única aparição em Cannes com O Sol Nasce Para Todos. Em 1955, o Grande Prémio recebeu o nome de Palma de Ouro. Foi entregue a Marty, de Delbert Mann, que ia tornar-se no primeiro de 14 filmes americanos a receber este troféu tão cobiçado, fazendo dos Estados Unidos o país com mais palmas do mundo. 





No momento em que a indústria cinematográfica francesa conhecia, em finais dos anos 50, as gigantescas mudanças induzidas pelos “jovens Turcos” da Nova Vaga, os filmes americanos conheceram a sua própria revolução com a entrada em cena de realizadores independentes como Morris Engel, John Cassavetes e Irvin Kershner (cujo filme Houdlum Priest passou na competição em 1961) e de outros jovens realizadores como John Frankenheimer (proveniente do mundo da televisão) ou Sidney Lumet, apropriando-se pouco a pouco da linguagem convencional da grande tradição cinematográfica de Hollywood. Os filmes All Fall Down de Frankenheimer e Longa Viagem Para A Noite de Lumet entraram em Cannes em 1962, e o filme de Lumet valeu ao trio de actores principais (Dean Stockwell, Jason Robards e Ralph Richardson) um Prémio de interpretação colectivo, bem como o Prémio de interpretação feminina atribuído a Katharine Hepburn. 

Em 1965, Cannes recebeu pela primeira vez um presidente do júri de nacionalidade americana, na pessoa de Olivia de Havilland. A Palma de Ouro coube à comédia “mod” vanguardista de Richard Lester The Knack… And How To Get It; embora o tema do filme fosse totalmente britânico, sublinhe-se que Lester é americano. Em 1967, um único filme americano foi à competição do festival. Tratava-se de um filme independente de baixo orçamento, inicialmente o projecto de fim de curso da UCLA Film School do realizador do mesmo… O filme chamava-seBig Boy, e o seu encenador era nada mais, nada menos, que um futuro duplo laureado da Palma de Ouro que responde pelo nome de Francis Coppola.

* Scott Foundas é crítico e programador de cinema. É co-director dos programas da Film Society of Lincoln Center e redige regularmente artigos para a revista Film Comment, bem como para outras publicações.

Continua Festival de Cannes

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