terça-feira, 4 de outubro de 2011

A história do cinema: Argentina


A história do cinema a partir da participação de diversos países no Festival de Cannes continua hoje com a Argentina. A série de artigos é uma publicação original do site do Festival. 

POR PAULO PARANAGUA* 

"O cinematógrafo Lumière foi apresentado pela primeira vez em Buenos Aires a 18 de Julho de 1896, dois dias antes do Vitascópio de Edison. Foi um Francês, Eugène Py, quem filmou os primeiros metros de película, uma bandeira argentina a flutuar ao vento. O nacionalismo impregna o primeiro sucesso público, Noblesse gaucha (Humberto Cairo, Eduardo Martinez de la Pera e Ernesto Gunche, 1915), peripécias entre o campo e Buenos Aires (na altura a principal metrópole sul-americana), cujo humor é feito em detrimento de um imigrante italiano pouco esperto. 

Por falta de uma Cinemateca Nacional digna desse nome, foi graças ao Museu Municipal do Cinema de Buenos Aires que conhecemos hoje em dia o cinema mudo argentino. El ultimo malon (Alcides Greca, 1918), produzido em Rosário, ilustra o dilema clássico de Sarmiento entre a civilização urbana e a barbárie das províncias indígenas, com uma mistura curiosa de autenticidade e astúcia. Esta problemática conhecerá uma versão mais compaixonante e convencional, La quena de la muerte (Nelo Cosimi, 1928). 



Durante os filmes mudos, as projecções na calle Corrientes, a Broadway de Buenos Aires, eram acompanhadas pelas “orquestras típicas” dedicadas ao tango. Max Glucksmann, explorador, distribuidor e produtor de actualidades era igualmente o primeiro editor de partituras musicais, numa altura em que a música argentina se tornava num produto de exportação. 

Poderá dizer-se que o filme falado favoreceu os vasos comunicantes entre o tango e o cinema. O realizador José Agustin Ferreyra, cuja carreira começou em 1915, impregna-se do ambiente melodramático da canção popular e faz de Libertad Lamarque uma verdadeira estrela. A Paramount apercebe-se depressa do potencial do tango e contrata o seu principal intérprete, Carlos Gardel, lenda viva antes da sua morte acidental em 1935. 

Os produtores argentinos vão explorar a mesma veia até à saciedade, alternando os melodramas lacrimosos e as comédias populistas. Uma actriz com inspiração inesgotável ficou nas memórias: Nini Marshall, a quem Alfredo Arias prestou uma justa homenagem". 

* Paulo Paranagua é jornalista e historiador de cinema. 

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