segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A história do cinema: Alemanha

O Festival de Cannes traz diversos artigos contando a história da indústria cinematográfica de vários países, compondo um ótimo material de consulta ou apenas leitura.

Estão a história da África, Alemanha, assinada por nada menos do que Wim Wenders, Argentina, Coreia, Brasil - está já publicada aqui no CineLux durante o Festival deste ano, Itália, Rússia, China, Japão, Egito, Espanha, EUA, França, Polônia, Reino Unido e México.

Os artigos são ilustrados com cartazes, depoimentos de cineastas, trailers, fotografias e vasto material de arquivo. E é nessa viagem que o CineLux embarca hoje, publicando um país a cada dia.

Iniciamos pelo artigo de Wim Wender, para a história da Alemanha, uma vez que o texto sobre África, assinado por Jean Pierre Garcia, não está mais disponível: 


Por Wim Wenders

"Concebido antes da guerra, em 1939 (Louis Lumière deveria ter sido o primeiro Presidente!), o Festival só pôde começar em 1946, consequência da mais desastrosa contribuição alemã para a História, sim, e também para o cinema. Depois, a cronologia dos filmes alemães na Croisette é tão variada quanto o próprio cinema alemão do pós-guerra. Há autores e obras publicadas e aqueles de quem nos recordamos com surpresa ou com alegria. (E peço desde já desculpas a todos os que não aparecem no meu percurso dos anais do festival)

O único alemão presente no primeiro ano, em 1946, era um exilado: Billy Wilder com “The Lost Weekend”. Como gostaria de rever ou redescobrir esta selecção! Alfred Hitchcock, Roberto Rosselini, David Lean, George Cukor, Charles Vidor, René Clément, Jean Cocteau (com “A Bela e o Monstro”!), entre outros. Perguntamo-nos de que forma sentiram esta estreia mundial, este festival desconhecido na Côte d’Azur que ainda não tinha qualquer tradição. Nós temos sempre toda a história de Cannes na cabeça. É estranho imaginá-la como uma invenção…

Um filme alemão que poderia ter sido mostrado nesta primeira vez foi rodado em 1944, nos arredores de Berlim, por Helmut Kaütner. “Unter den Brücken” foi apresentado em Locarno como estreia mundial durante o ano de 1946. É um pequeno milagre, esta história de Amor entre uma mulher e dois homens, o meu filme preferido em todo este período de pós-guerra. A rodagem ocorreu no momento em que Berlim e Potsdam estavam a ser bombardeadas pelos aliados e este filme é completamente feito sob o controlo dos Nazis. A ausência da guerra não é uma forma de recalcamento, é mais uma utopia. Este filme é um hino à paz, como há poucos no cinema.

Este mesmo Helmut Kaütner, largamente esquecido pela história do cinema, é ainda assim o primeiro representante alemão em Cannes um pouco mais tarde, com “Der Apfel ist ab” em 1949. (E volta em 1955 com “Ludwig II”). Este ano de 1949 apresenta quatro filmes alemães em competição, espantosamente, com filmes (desaparecidos) de Josef von Báky (“Der Ruf”), Kurt Maetzig (“Die Buntkarierten”) e Hans Betram “Eine Grosse Liebe”. Ainda assim, uma verdadeira primeira “vaga alemã”…

O cinema alemão dos anos 50 e 60 é representado por autores como Staudte (“Rose Bernd” em 1957 e “Der letzte Zeuge” em 1961), Kurt Hoffmann (1958) (com um filme muito comercial como “Das Spukschloss im Spessart”) Herbert Vesely (com o importante “Das Brot der Frühen Jahre” em 1962) Franz Peter Wirth com “Helden” em 1959, Harald Braun duas vezes com “Herz der Welt” em 1952 e “Solange Du da bist” em 1954. Michael Pfleghar mostra em 1964 “Die Tote von Beverly Hills”. Bernard Wicki vem em 1964 com “The Visit” e uma vez mais no final da sua carreira, em 1989, com “Das Spinnennetz”. (Desempenha o papel de um médico amaldiçoado no meu “Paris, Texas”…) "

Continua
Festival de Cannes




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