Flavia Guerra - O Estado de S. Paulo
Leon Cakoff-Foto Tiago Queiroz/AE |
"Cinema é comunhão", dizia Leon Cakoff sobre sua paixão, que transformou em profissão de fé. Dedicou a vida a comungar com o cinéfilos brasileiros a fé que sempre teve na arte de abrir uma janela para o mundo. E trouxe o mundo para São Paulo. E é por estas e por outras que sua história não se confunde só com a história da Mostra, mas também com a história recente do cinema brasileiro e do cinema paulistano.
Ainda nos anos 70, quando o mundo cultuava as salas de rua, que, ironicamente, tornaram-se de fato templos evangélicos nos anos 90, cedendo espaço à cultura dos Multiplex, a luta de Cakoff era trazer a revolução do olhar para dentro dos cinemas e mentes dos brasileiros. Ao longo dos 35 anos de Mostra, viu uma nova era chegar e ensinou aos novos cinéfilos que ajudou a ‘batizar’ a arte de amar o cinema. "Cinefilia é extrair qualquer elemento prazeroso de um filme. A gente perdeu a capacidade de fabricar cinéfilos", declarou ele ao Estado em conversa, em março, quando foi consultado sobre o fim do Belas Artes. Talvez estivesse enganado. A cinefilia aprendida por gerações de ‘crias da Mostra’ continuará sendo fabricada cada vez que um filme das futuras Mostras ganharem a tela grande.
A conversa com o Estado permaneceu inédita até hoje, quando mais do que nunca é dia de lembrar que, como ele mesmo disse, Cakoff não era um conformista. "Não paro só no cinema. Nem só na Mostra. Quero sempre alcançar mais gente. Sempre. Sinto esta necessidade." Por isso fundou com Adhemar Oliveira a distribuidora Mais Filmes, que levou para o circuito comercial os ‘Filmes da Mostra’ e tantos outros. Por isso levou a Mostra para a TV e apresentou na TV Cultura, ao lado de Renata Almeida, em que eles e convidados comentavam os filmes da Mostra que chegavam ao grande público. Por isso se tornou sócio das salas Unibanco Arteplex, que uniam o cinema de arte com o conforto do shopping. Dirigiu e produziu filmes (Volte sempre, Abbas, 1999, Bem-vindo a São Paulo, 2004, O Estranho Caso de Angélica, Manuel de Oliveira, 2010), escreveu críticas, lançou livros, fabricou milhares de cinéfilos.
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Morre Leon Cakoff
UOL
O crítico de cinema e criador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Leon Cakoff, morreu nesta sexta-feira (14), aos 63 anos. Ele vinha lutando contra um melanoma desde 2002. Ele estava internado há duas semanas no Hospital São José, em São Paulo. O corpo será velado no MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo, a partir das 17h de hoje até às 12h de sábado (15). O corpo seguirá para o Memorial Parque Paulista, no Embu das Artes, onde será cremado.
Nascido na Síria, em 25 de junho de 1948, Leon Chadarevian veio ao Brasil com a família aos oito anos de idade. Adotou o nome de Leon Cakoff após ter problemas com o regime militar, por conta de sua atuação política. Formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, é conhecido pela fundação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo - o mais antigo festival internacional de cinema do país. O crítico deixa a esposa Renata de Almeida, e os filhos Pedro, Laura, Jonas e Tiago.
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