terça-feira, 5 de julho de 2011

"Famílila Braz - Dois Tempos"



São Paulo, terça-feira, 05 de julho de 2011


CLAUDIA ANTUNES 

Paradoxo em quatro rodas

RIO DE JANEIRO - No documentário "Família Braz - Dois Tempos", de Dorrit Harazim e Arthur Fontes, o automóvel é um sonho de consumo e uma necessidade para dona Maria, seu Toninho e os quatro filhos, que se esforçam para aproveitar a oportunidade de melhorar de vida na primeira década do século.
Em 2000, o clã da Brasilândia, a 12 km do centro paulistano, se sacrifica para comprar o veículo de que o filho mais velho precisa para dar conta da faculdade e do trabalho, à falta de transporte público decente. Em 2010, a família possui quatro carros, e a meta de uma das filhas é trocar o seu por um modelo mais avançado.
É sintomático da capacidade do país de conviver por décadas com a desigualdade o fato de que, justo quando os muitos Braz brasileiros compraram seu primeiro automóvel, cidades como Rio e São Paulo se dão conta de que o trânsito ameaça inviabilizar a vida urbana.
Em metrópoles que, nos últimos 50 anos, abriram vias para satisfazer prioridades de 30% da população, se tanto, chega como uma surpresa a ascensão material de parte dos que se viraram em lotes informais, a fim de ficar perto do trabalho, ou gastavam horas de suas jornadas espremidos em ônibus.
Agora, enquanto os muito ricos já trocaram as quatro rodas pelo helicóptero, será preciso dizer tanto aos emergentes quanto à velha classe média que deixem o carro na garagem em dias úteis, como se faz em cidades europeias e asiáticas que tradicionalmente privilegiaram investimentos em transporte coletivo sobre trilhos.
Parece injusto, e é. Exigirá uma revolução cultural e econômica perto da qual o crescimento dos últimos anos vai parecer uma realização óbvia. Será, no entanto, o preço a pagar pelo ingresso tardio no verdadeiro capitalismo, que avança pouco quando não incorpora a maioria -e que também, deixado sozinho, não produz civilização.

Abaixo, o trailer oficial. Site, aqui. 

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