terça-feira, 21 de junho de 2011

Mussolini, Cesare Batistti e dois irmãos gays

Dois bons italianos escondidinhos nas locadoras, “Vincere” e “O Primeiro que Disse” ( Mine Vaganti ). "Vencer" retoma a história do fascista Benito Mussolini pelo ângulo de uma mulher, Ida, interpretada pela bonita atriz Giovanna Mezzogiorno.

O filme é de 2009, dirigido por Marco Bellochio, andou bem por Cannes, concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro e percorreu as telonas brasileiras em meados do ano passado.

A história é real. Ida conhece Benito, ainda jovem militante socialista de esquerda, envolve-se perdidamente ao ponto de vender tudo para o amante montar o jornal que sustentaria sua transformação em líder político de extrema direita e imediato seguidor do nazista Adolf Hitler.

Problemas: eles têm um filho, Benito Albino é reconhecido por Mussolini, mas logo em seguida, coincidindo com a escalada do pai rumo ao topo da vida italiana, é isolado, junto com a mãe, em Trento, enquanto Mussolini assume publicamente outra família.

Ida passa a perseguir, obcecadamente, o reconhecimento de a verdadeira primeira dama. Numa dessas investidas, ao tentar aproximar-se de um antigo conhecido, já então elevado ao cargo de Ministro, invade a visita da autoridade a um centro de estudos, onde um dos acadêmicos citados é o Cesare Batistti original.

Nascido em Trento em 1875, além de geógrafo, jornalista e político, o verdadeiro também começou na esquerda, atuando no movimento conhecido como “irredentismo”. Morreu enforcado em 1916, durante a I Guerra Mundial como destacado militar italiano.

Vincere” não é um épico, nem uma obra de arte, mas vale a pena para recordar, com bons momentos cinematográficos, o quando devemos cuidar e preservar os regimes democráticos.

Leva-nos também a imaginar que se os fascistas eram capazes de aniquilar pessoas da própria família o quanto sofreu o resto do povo italiano.

O Batistti atual, que Lula e Tarso Genro então Ministro da Justiça tiraram da cadeia, nasceu em 1954, em Sermoneta e foi militante do PAC - Proletari Armati per il Comunismo.





“O Primeiro que Disse” também trata de outro assunto sério, o homossexualismo, só que de maneira leve, com muito humor, bom gosto e irreverência. "Mine Vaganti" tem ótima fotografia, com música idem.

Rodado na cidade de Lecce, na Toscana, conta a vida de uma tradicionalíssima família de históricos fabricantes de massas. Bem-sucedido, o patriarca manda o filho estudar administração em Roma para, mais tarde, também fazer sua parte na empresa.

Em Roma, Tommaso, interpretado por Ricardo Scarmacio, descobre-se gay e sonha em ser escritor. Convocado pela família para uma reunião com novos sócios, desabafa com o irmão e conta que vai abrir o jogo exatamente durante o jantar de negócios.

Tudo bem se o irmão mais velho, Antonio, interpretado por Alessandro Preziosi, não aproveitasse a oportunidade para adiantar-se e confessar que também era gay. Escândalo, gritos, desespero e enfarte no frágil coração paterno.

Diante das circunstâncias, com medo que o pai não resista a dois irmãos gays sob o mesmo teto, Tommaso fica sem alternativa e volta a viver suas contradições, inclusive interessando-se pela filha do novo sócio.

"O Primeiro que Disse" é irreverentemente bem dirigido pelo cineasta turco Ferzan Opztek, gay assumido e radicado no Itália há muitos anos. A passagem e hospedagem do namorado e amigos por Lecce beira ao cliché, mas é divertidíssima. 

Uma personagem central na costura do enredo é a avó interpretada pela atriz Ilaria Ochini. Ela também abatida na juventude por um desses estranhos amores. "Os amores impossíveis não acabam nunca", é a sua sentença.

Abaixo, um trailer em português, muito ruim. E o oficial, legendado em inglês.



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