terça-feira, 7 de junho de 2011

444 filmes sobre o terror

por Gisele Teixeira, Aquí me quedo, coluna publicada hoje no blog do Noblat.

A ONG Memória Aberta, que coordena desde 1999 a ação de cinco organizações de direitos humanos, apresentou semana passada o projeto A Ditadura no Cinema: catálogo de filmes sobre a última ditadura, o terrorismo de estado e a transição democrática na Argentina.

O número de películas impressiona. São 444 obras, incluindo ficção, documentários e cinema experimental, produzidas a partir de 1976. Desse total, 280 títulos foram recuperados e podem ser vistos (mas não podem ser copiados) pela população, na sede da ONG . O restante dos filmes está perdido ou fora do país.

As películas foram catalogadas de três formas. Por temas,que vão desde “a favor do regime” até filmes sobre a “transição democrática”, passando por “perseguição”, “Malvinas”, “o olhar das crianças”, “lugares de repressão” e “a igreja e sua cumplicidade”, entre outros. Ou ainda por ordem cronológica e alfabética.

Na catalogação, os organizadores encontraram duas pérolas – “Estoy herido” Ataque! (1977) e Frihetensmurar / Murallas de la libertad (Marianne Ahrne, 1978) – películas que durante muitos anos foram dadas como perdidas. Sabia-se de suas existências, mas não de seus rastros. Agora ambas estão à disposição dos argentinos.

A primeira é um filme a favor do regime, que exalta as Forcas Armadas em sua luta contra a guerrilha ocorrida em Tucumán, norte do país, em 1975. Na época, foi difundido apenas em quartéis.

A segunda, de origem sueca, narra a vida de um artista argentino no exílio e foi projetada na abertura do XI Festival Internacional de Cinema de Moscou em 1979, provocando constrangimento para a delegação argentina, que pediu sua retirada da mostra. E conseguiu.

Quase toda a filmografia de denúncia dos crimes da ditadura foi rodada no exílio, mas a partir da volta da democracia, em 1983, cresceu a produção sobre o tema na Argentina. Em 2010, foram realizados 32 obras sobre o assunto.

Na página do Memória Aberta é possível encontrar cada filme com sua sinopse, data de estréia, trailer (quando possível) e toda a ficha técnica de produção.

Há 31 filmes sobre a apropriação de crianças nascidas em cativeiro, um dos temas mais polêmicos na Argentina atualmente. O primeiro deles, A História Oficial, foi rodado em1985 e levou o Oscar de Melhor Película Estrangeira. Mas o drama segue. Nas telas e na vida real.

Primeiro, porque se estima que 500 crianças tenham sido roubadas de mães seqüestradas. Desse total, 104 conseguiram recuperar suas identidades. Como se isso não bastasse, Ernestina Herrera, proprietária do jornal Clarín, um dos maiores da Argentina, é acusada de ter adotado dois deles. O caso se arrasta há mais de dez anos.



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