“O que Resta...” é instigante para olhos e cérebros ocidentais comuns, pouco familiarizados com o mundo árabe-israelense e seus conflitos familiares, filosóficos, políticos e religiosos autoalimentados há séculos.
O filme começa em 16 de junho de 1948, quando o prefeito da pequena cidade palestina de Nazaré assina, pacificamente, a entrega da cidade ao exército israelense. Israel havia declarado sua independência em maio daquele ano, depois de ter sua criação autorizada pela ONU em novembro de 1947.
Elia no papel dele mesmo entra mudo e sai calado do filme, abre a boca apenas para fumar e beber com os amigos em cenas onde só os gestos e, principalmente, os olhos falam. São olhos perturbados, aflitos, cheios de interrogação e espanto, difíceis de penetrar.
Fiquei dois dias pensando naquela metáfora, achando que não entendi a mensagem. Até ontem, antes de ver as fotos dos conflitos de populares brigando entre si no Egito. A polícia e o exército o que fazem? Olham, acompanham com os olhos.
Tem explicação? Acredito que não na lógica ocidental. Essa é a metáfora que o diretor nos aplica ao contar a divisão, e a resistência, simbolizada em sua família, dos palestinos após a chegada dos judeus, quando uns ficam no novo estado, outros nos territórios ocupados e mais outros em países vizinhos.
Para disfarçar o profundo estado de tensão, que vai da primeira até a última cena, Suleiman faz um filme usando o humor e a ironia sempre no extremo. Uma das melhores é quando um palestino sai de casa para colocar o lixo no coletor do outro lado da rua.
Quando está voltando para dentro de casa o celular toca e ele fica andando de um lado para outro, acompanhado pelo canhão de um tanque, também de um lado para o outro. Existem outras, memoráveis. Vale a pena ir na locadora.
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