terça-feira, 24 de julho de 2012

O Coringa está em toda parte, por Arnaldo Jabor


Foto Thomas Cooper/Getty Images
O Estado de S.Paulo

Vamos ao cinema em busca de ilusões. Só que, de repente, sai da tela a realidade, como uma pavorosa 'rosa púrpura de sangue'!

"Armas na mão e balas nas cabeças" foi o slogan dessa noite terrível. Como se o assassino dissesse: "Eu não sou vocês; eu sou eles! Eu sou o Coringa".

Esse cara é louco de pedra, sem dúvida; mas, quem dá conteúdo à sua loucura? É óbvio que são as cenas de morte cruelmente sofisticadas e sádicas do cinema americano, as mesmas dos filmes-catástrofe, os 'Godzillas' que inspiraram o 11 de Setembro do Osama. Sempre me espantei com o prazer que tem o cinema americano de destruir Nova York; mesmo depois do Osama, continuam a destruir a cidade. Por que isso? Tirando as comédias românticas ridículas e os desenhos animados, só se vê morte nos filmes. E não é a violência literal que provoca esses assassinatos. Não; é justamente a tranquilidade com que a violência é exibida, a displicência com que fuzilamentos e punhaladas se transformaram em um bailado ritual quase erótico. A violência ficou fria, 'deliciosa' de ver.

E quem fornece as armas? Ora, é óbvio que é o comércio incontrolável de máquinas mortíferas, que ninguém consegue coibir. São 200 milhões de armas legalizadas na América. Assim:

"Boa tarde... eu queria uma metralhadora israelense, um Kalashnicov bacana, talvez o AK47, e aquela granadinha ali... por favor"... "Tudo bem, aqui está - quer mais munição?"

E, assim, o "cavaleiro das trevas ressurgiu", o homem morcego se vingou de seus antigos protegidos. É claro que não são as cenas pontuais de sangue que influenciam os loucos, mas a violência implícita no país, direito constitucional de pistoleiros e caubóis. Eu já morei lá, ia a uma escola como Columbine e vi de perto a cultura da porrada.

Continua O Estado de São Paulo

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