sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Em cinco ou seis dígitos - e a cacofonia de maxilares

por Ruy Castro

Folha de São Paulo

RIO DE JANEIRO - Por falta de tempo, oportunidade ou vontade --o ruído de pessoas roendo pipoca em uníssono me impede de ouvir os diálogos--, não fui ao cinema assistir ao elogiado "Heleno", o filme de José Henrique Teixeira sobre o craque do Botafogo. Finalmente, outro dia, em casa, sem a cacofonia de maxilares ao meu redor, vi-o em DVD. É um filme de categoria internacional.

Mas, a que preço? Antes de surgir a primeira imagem --antes até de piscar na tela o título "Heleno"--, entram os logotipos das empresas que patrocinaram, pagaram, subsidiaram, colaboraram, aprovaram, apoiaram, produziram, coproduziram, associaram-se e, enfim, tornaram possível o filme: Downtown Filmes, Globo Filmes, Goritzia Filmes, RT/features, Prefeitura do Rio, Ministério da Ciência, Governo de Minas Gerais, Apema, Ambev, Ancine, Finep, Cemig, Petrobras, Volkswagen, Correios, CBF, BNDES, CBMM, HBO e EBX. Lembrou-me o macacão de Emerson Fittipaldi. Mas, à falta de estúdios e capitais próprios, é como se faz cinema hoje, acho.

Nem sempre foi assim. Nos anos 50, um estúdio como a Atlântida decidia fazer um filme e fazia. Atores, diretores, técnicos e operários eram todos funcionários contratados. Quanto ao cenário, não era necessário bater um prego. Estava tudo lá.

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