A cegueira dos afetos
Novo filme de Fernando Meirelles desperdiça nomes estelares do elenco, como Jude Law
SUSANA SCHILD - O Globo
Em priscas eras, para ser universal,o magistral dinossauro Leon Tolstoi recomendava falar da sua aldeia. Se a máxima ainda estivesse valendo,simplificaria bastante a produção de filmes imbuídos desta ambição.
Para começar, o que bate na tela não deve deixar dúvida para o espectador de que está assistindo a um produto com o passaporte explicitamente carimbado com a paradoxal identidade “global”. O mix deve exibir elenco multinacional,locações em diversos países, relações instantâneas costuradas em narrativa frenética e fragmentada.
"O PERFIL DOS
PERSONAGENS É
TÃO RALO QUE
CABERIA EM
MENSAGENS
DO TWITTER"
“360”, de Fernando Meirelles, a anos luz de “Cidade de Deus”, parte do mote: “Um sábio disse uma vez, se existe uma bifurcação na estrada, siga-a. Ele só esqueceu de avisar que caminho escolher”. Na dúvida, o filme passa por vários — Viena, Paris, Londres, Bratislava,Denver, Phoenix. Como cenários, ênfase em locais de trânsito e impessoais,como aeroportos, halls e quartos de hotéis,raros ambientes domésticos, alguns exteriores.
O projeto partiu do convite do roteirista inglês Peter Morgan (“A rainha”,“Frost/Nixon”), que por sua vez se inspirou na peça “La ronde”, do genial autor Arthur Schnitzler, nascido em Viena, não por acaso ponto de partida e chegada da trama. A peça gerou um clássico, assinado por Max Ophuls em 1950, em que um singelo carrossel simbolizava a circularidade e a velocidade do entrelaçamento de prostitutas, oficiais,artistas e aristocratas.
Continua em O Globo para assinantes, edição de 16.8.2012
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