quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cinema Paradiso

Por dezenas de motivos o primeiro post não poderia deixar de ser sobre Cinema Paradiso, película que provavelmente poucos não viram ou ouviram falar e que eu considero o “hino” da história do cinema.  É uma idiossincrasia pessoal, pois fui deformado pela sétima arte quando ainda mamava no peito, conta a minha mãe, Sônia.

Segundo essas memórias, vivas, eu era levado para o camarote do Cine Lux, do meu avô Julio, quando a película era imperdível. Ela não me disse, nem eu perguntei, se algum berreiro atrapalhou uma exibição comandada pelo seu Chiquinho, o projecionista de um pouco mais de metro e meio de altura. Como em Paradiso, ele também subia num caixote para ajustar o filme.

Essa mesma porta mágica que ligava a casa do meu avô ao camarote do Lux eu continuei atravessando anos e anos, algumas vezes escondido para fugir da censura familiar e ver filmes “proibidos” ou apenas o futebol do Canal 100.

O Lux foi daqueles cinemas antigos, com mais de 600 poltronas, sendo o camarote também imenso, calculo coisa para mais de 100 lugares. A diferença entre o Lux e o roteiro de Paradiso é que ele não foi implodido. Deu lugar a uma agência bancária.

Duas memórias tenho sobre esse camarote, uma é que meu sistemático avô só liberava a subida aos domingos, quando a sala principal lotava, portanto, na maioria dos outros seis dias ele era só meu, o que me fez gostar de ver filmes sozinho, quieto, até hoje. E depois de algumas namoradinhas que eu galanteava com uma entrada furtiva, com a cumplicidade do seu Tomezinho, o porteiro. Era uma operação quase tão épica quanto Os Canhões de Navarone, pois o tio Bilaca, o atento e fiel bilheteiro, não podia nem sonhar.

Pois foi revendo Cinema Paradiso, pela quarta ou quinta vez, que decidi perder o medo e colocar em prática este www. Fazia alguns anos que eu não o repassava. Desta vez, senti o cheiro da cabine de projeção, o gosto da microfumaça do carvão queimando para criar aquela luz de milhares de lâmpadas a atravessar a escuridão até a imensa tela, o barulhinho intermitente do projetor.

Cinema Paradiso é uma película que corre nas veias dos cinéfilos. Veja ou reveja, provavelmente a sua relação com o cinema nunca mais será a mesma.
 

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