O portal UOL Cinema está promovendo uma votação para escolher dos melhores filmes da década. A partir das indicações de seis críticos de cinema, os leitores podem votar nos seus preferidos.
Cada um dos seis indica dez películas. As preferências de cada um podem até ser discutíveis, mas as indicações servem para ativar a memória e como catálogo para escolhas futuras.
Aqui você vai direto às indicações.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Em 2011, desafio é manter o ritmo
Ano promete com fortes lançamentos nacionais e estreia de candidatos ao Oscar
Flavia Guerra - O Estado de S.Paulo
Se para os cineastas brasileiros vai ser tarefa difícil (quase impossível) superar o sucesso de Tropa de Elite 2, para o cinema internacional também será trabalho árduo ultrapassar o fenômeno 3D Avatar. Ainda que o épico hi-tech de James Cameron tenha entrado no Oscar 2010 como um dos favoritos e saído praticamente de mãos abanando, não há como negar que fez a alegria dos cinemas de todo o mundo.
Para 2011, o cinemão espera blockbusters do naipe de Capitão América, Smurfs e Thor, de Kenneth Branagh. Aposta 3D da temporada, estreia em 29 de abril e traz Chris Hemsworth, Natalie Portman e Anthony Hopkins. O filme é uma adaptação para o cinema dos quadrinhos protagonizados pelo personagem Thor, da Marvel Comics. As "franquias" continuam e o último da saga de Harry Potter aporta nos cinemas em 15 de julho. Já Sherlock Holmes 2 deve fechar o ano em 16 de dezembro. Ao longo de 2011, completam a lista X-Men: First Class,Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas, Transformers: Dark of the Moon.
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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Tropa de Elite 2
Como discípulo de Nelson Rodrigues, aguardo a decantação das unanimidades. Só fui assistir ao recordista “Tropa de Elite 2” agora. Pretendia dar um tempo mais, ganhar distanciamento entre a coincidência do seu lançamento e as atividades politico-policiais-militares nos morros do Alemão, Vila Cruzeiro e Penha, no Rio de Janeiro, recentemente. O problema é que estão rareando as salas e o filme é para a telona.
Sem dúvida é um bom filme, cinema brasileiro em fase adulta, em produção, argumento e roteiro. Se tivesse de cinco a dez minutos a menos, seria um filme muito bom. Até ótimo, em se tratando de cinema brasileiro.
Tem discurso politicamente correto e violência em excesso, resultando em cenas longas, que poderiam ser menores, sem perder conteúdo.
Nesse caso, menos seria mais. Não mudaria a mensagem pretendida pelo diretor José Padilha, ao contrário. Menos discursos, palavrões, tiros, violência e cadáveres levariam a um resultado mais contundente. O excesso deles leva o filme a carregar clichês, que levam à caricaturas e vice-versa. O que enfraquece as conclusões finais.
Todos os personagens são corretos dentro do argumento, não precisavam chegar ao estereótipo. O excesso banaliza e deixa de chocar. A violência, a corrupção na política, nas instituições em geral, particularmente no Rio de Janeiro, viram lugares-comuns. Está tudo errado, mas todo mundo faz, e a gente vai levando. Como na história, recente, desse país. Em último caso, instaure-se uma CPI. Como no filme.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
BERLINALE - 2011
A boa dica enviada pela sempre antenada e internacional Tid Garcia é o anúncio das primeiras pelícolas confirmadas no 61º Festival Internacional de Cinema de Berlim – Berlinale, de 10 a 20 de Fevereiro, e que acontece em uma das cidades mais efervescentes do mundo. Os números falam por si. Para 2011 estão previstos cerca de 400 filmes, de 128 países, com a participação de 19 mil profissionais do ramo. Cercados por 4 mil jornalistas.
O Berlinale, na medida do possível, procura fugir da grande indústria cinematrográfica norte-americana, leia-se Hollywood. Não é atoa que mantém estreita cooperação com o Sundance Film Festival de forma a oferecer ao público o maior número possível de filmes independentes, tanto na competitiva quanto nas exibições da amostra.
Só para avivar a memória, o Sundance começou em 1978. Depois, em 1981, liderado por nada menos que Robert Redford, virou um espaço consagrado aos cineastas independentes. O próximo acontece em janeiro, de 20 a 30.
O Berlinale será aberto pelo o faroeste True Grit, de Joel e Ethan Coen, também fora da competição. Já anunciados:
* Pina - Alemanha / França - em 3D, dirigido pelo justamente consagrado Wim Wenders. É um filme da dança e faz sua estreia mundial no Berlinale – não deixe de assistir ao vídeo abaixo.
* Coriolano – Reino Unido/ Sérvia - estreia e fora da competição, dirigido por Ralph Fiennes, estrelado pelo próprio Fiennes, mais Gerard Butler, Vanessa Redgrave, Brian Cox, James Nesbitt;
* Wer wir nicht wenn – Alemanha, de Andres Veiel, com August de Diehl, Lauzemis Lena, Alexander Fehling, também estreia mundial;
* Yelling To The Sky – Estados Unidos, dirigido Mahoney Victoria com Zoe Kravitz, Gabourey Sidibe, Tim Blake Nelson;
* The Future – Alemanha / EUA, dirigido por Miranda July com Hamish Linklater, Miranda July, David Warshofsky.
* Bizim Büyük Çaresizliğimiz - Turquia / Alemanha / Países Baixos, dirigido por Teoman Seyfi, com İlker Aksum, Al Fatih, dizendo Güneş, Baki Davrak, Birsel Taner, Mehmet Ali Nuroğlu;
* Lipstikka - Israel / Reino Unido – estreia mundial, de Jonathan Sagall, com Clara Khoury, Attiya Nataly, Rosenblatt Moran, Ziv Weiner.
* Lipstikka - Israel / Reino Unido – estreia mundial, de Jonathan Sagall, com Clara Khoury, Attiya Nataly, Rosenblatt Moran, Ziv Weiner.
Um dos mais esperados é Pina, em 3D, e um reconhecimento de Wim Wenders ao trabalho da coreógrafa alemã Pina Bausch, considerada uma das mais influentes do mundo nos últimos 30 anos pela crítica especializada quando se fala de dança contemporânea.
Não deixe de conferir o trailer.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Cineasta iraniano é condenado a seis anos de prisão
Mais um crime contra a liberdade de expressão vindo do Irã. Vamos aguardar o que dizem por aqui os nossos democratas de plantão.
Jafar Panahi é acusado de conspiração contra o governo; decisão também o afasta das atividades no cinema por duas décadas
Jafar Panahi é acusado de conspiração contra o governo; decisão também o afasta das atividades no cinema por duas décadas
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O renomado cineasta iraniano Jafar Panahi, 50, uma das principais vozes da oposição, foi condenado por um tribunal do seu país a seis anos de prisão.
Além da detenção, Panahi está proibido de realizar seu trabalho pelos próximos 20 anos. Isso significa que não poderá se envolver com qualquer atividade cinematográfica durante esse período.
O diretor está sendo acusado de conspiração e propaganda contra o governo.
O renomado cineasta iraniano Jafar Panahi, 50, uma das principais vozes da oposição, foi condenado por um tribunal do seu país a seis anos de prisão.
Além da detenção, Panahi está proibido de realizar seu trabalho pelos próximos 20 anos. Isso significa que não poderá se envolver com qualquer atividade cinematográfica durante esse período.
O diretor está sendo acusado de conspiração e propaganda contra o governo.
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domingo, 19 de dezembro de 2010
Susfistinha, pretensão e água benta
Pelo que traz O Globo vai ser interessante acompanhar o marketing de lançamento de "Bruna Surfistinha". Já contamos aqui que começou com a entrevista de Deborah Secco aos canais Telecine. Hoje o jornalão traz uma longa matéria, com resumo no site.
Segundo o jornal, a estratégia está sendo montada para "quebrar tabus e faturar milhões" e, como pretensão pouca é bobagem, ir atrás do recorde de bilheteria do popular e badalado "Tropa de Elite 2". Os dois têm co-participações de empresas Globo.
Note-se que este bateu o mais longevo recorde de bilheteria do cinema nacional e superou "Dona Flor e seus dois maridos", uma película que em 1976 fez 10.735.524 espectadores em dez semanas. "Tropa " fez 10.982.070.
O Globo - Segundo Caderno
Filme 'Bruna Surfistinha' prepara estratégia para quebrar tabus e faturar milhões
Karla Monteiro e Rodrigo Fonseca
RIO - Conforme o arrasa-batalhão "Tropa de elite 2" prepara sua saída de cena, depois de arrecadar R$ 101.698.805 ao vender 10.982.070 ingressos ao longo de dez semanas, o doce veneno do sexo pode fazer de "Bruna Surfistinha" a aposta do cinema brasileiro para aplacar a fome do mercado exibidor por blockbusters nacionais em 2011. Pelo menos fora das searas de rentabilidade mais asseguradas do país, como a comédia - que tem em "De pernas pro ar", agendado para o dia 31, seu primeiro trunfo - e o filão espírita - cuja promessa é "As mães de Chico Xavier", marcado para 1 de abril -, o título mais quente (e picante) é o longa-metragem protagonizado por Deborah Secco, que estreia em 25 de fevereiro.
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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Abutres
A dica recebida de Buenos Aires é “Carancho”, aqui “Abutres”, em correta tradução, tanto por ser literal quanto por, aparentemente, corresponder ao espírito do filme. Digo aparentemente porque ainda não o assiste, vi apenas o disponível na internet e no site oficial.
Confio na dica, pois a remetente Gisele Teixeira – que aliás mantém um ótimo blog desde Buenos Aires, sua nova terra natal -, é boa nisso. A última, em 2009, foi a equilibrada mistura do denso, passional, violento por conta das sangrentas ditaduras argentinas, e por que não cômico, “El secreto de sus ojos”, que acabou ganhando o Oscar de melhor filme estrangeiro no ano passado. “O segredo dos seus olhos” fez boa bilheteria por aqui.
Pelo visto nos trailers oficiais e outros disponíveis na internet, se “El secreto de sus ojos” exigia coração forte, “Carancho” exigirá também estômagos fortes. As duas películas têm em comum o astro principal Ricardo Darín, que muitos dizem ser nos últimos anos a principal “cara”, e as meninas dizem que também os olhos, do cinema internacional argentino.
Segundo a sinopse, neste último ele interpreta Sosa, um advogado de porta de hospital, empregado de uma seguradora não muito católica em suas práticas para vender seguros de vida e de morte para vítimas de acidentes. Nessas andanças conhece Luján, uma médica interpretada por Martina Gusman, jovem com filmografia ainda rala. Tem no curriculum a sociedade empresarial, e doméstica, com o diretor da película, Pablo Trapero, na produtora Matanza Cine.
Fica a dica. “Abutres” tem bons comentários dos especializados, chegou ao Brasil pelas portas do Festival do Rio e está em cartaz desde o início deste mês. Os críticos portenhos já apostam que “Carancho” será o terceiro Oscar da história do cinema argentino.
Talvez não ainda saibam que antes terão que superar o insuperável, inédito e nunca antes visto na história deste país mico cinematográfico “Lula, o filho do Brasil”, o “nosso” escolhido para representar o Brasil na seleção da Academia para 2011.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Cartazes de Cinema
Antes dessa possibilidade de encontrarmos tudo que já foi publicado, dito, escrito, vazado e impresso pela internet, curtir a criatividade dos artistas que bolavam os cartazes de cinema era um trabalho de garimpagem em sebos, lojas especializadas e até antiquários. Hoje, basta digitar “cartazes de cinema” no santo Google e viajar.
E é juntando essa facilidade com as inovações do dia a dia que é possível pensar na sobrevivência dessa arte diante da digitalização do mundo. Certamente os anúncios desenhados ou fotografados para ilustrar películas não vão acabar, o que deve acontecer é a substituição dos cartazes impressos por imagens digitais transmitidas em painéis eletrônicos.
Isso já acontece em cinemas mais modernos, e a coisa não para por ai. Dia desses estava com minha filha à mesa de uma lancheria de um shopping aqui em Brasília, quando notei que na divisória dos espaços havia uma telinha onde, entre outras propagandas, rodavam os horários dos filmes e os seus respectivos “cartazes”.
Logo lembrei de uma coisa que eu gostava de observar. Era a montagem dos painéis de madeira e a pintura das informações, como horários e dias de exibição, que se fazia para emoldurar os cartazes que vinham dentro das latas que transportavam os rolos de filmes. Para minha frustração nunca consegui ficar com um deles. Tio Bilaca não deixava, devolvia todos, religiosamente.
Bilaca, cujo nome era Nalvo, além de bilheteiro – e lanterninha, mas essa é outra história -, também montava os painéis. Meticulosamente, manejava os grampeadores para fixar o cartaz na madeira, e depois com pincéis e tintas pintava, caligraficamente, a hora e os dias em que as películas ficariam em cartaz. Para completar coloria com outros floreios de cores combinadas, as laterais que sobravam. Seu desafio era realçar os cartazes.
Seu ateliê era um sala de 2,5m por 4m, no máximo, embaixo de uma escada, separado do canto direito do palco pelo banheiro feminino, no final de um pequeno corredor que alcançava uma saída secundária do salão. Era abafado, pouco iluminado, o chão forrado com tábuas soltas sobre o quase sempre frio piso de cerâmica. Até hoje é possível lembrar da mistura do cheiro de papel, goma arábica e tinta que tomavam conta daquele imenso cantinho mágico.
Bilaca era um homem corpulento, calvo, rosto redondo, seus movimentos me pareciam em câmera lenta, aparentemente estava sempre bravo. No fundo, tinha ótimo senso de humor, mas este só entrava em plena atividade nas pescarias. Como eu era pequeno, coisa de nove, dez, onze anos, levei bons corridões do seu ateliê, pois, naturalmente, não conseguia ficar muito tempo parado e a cada movimento que eu fazia as tábuas tremiam e ele borrava o desenho.
Nada que hoje um bom computador não resolva.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Bruna Surfistinha
Os canais do Telecine, co-produtores de "Bruna Surfistinha" junto com a TvZero, começaram a rodar uma entrevista com Deborah Secco para divulgar o atrasado lançamento, agora marcado para 25 de fevereiro. Nela, a atriz diz que aprendeu muito e tornou-se outra pessoa depois que interpretou Raquel, nome verdadeiro da personagem.
Hoje, o blog GPS, hospedado no portal da revista Veja, especializado em "gente famosa, pessoas interessantes e sociedade", revela o segredo do atraso: porque os atores, quando estavam nus, não podiam usar o microfone de lapela, o que dificultou a captação direta dos diálogos sem interferência de outros sons que rolavam no ambiente.
A desculpa parece prosaica. Mas, também pode ser um boa jogada de marketing. Confesso que fiquei curioso para ouvir, com clareza, o que trazem esses educativos diálogos produzidos pela garota de programa que intelectualizou, e consta que ficou rica, o amor pago.
Aqui você assiste a entrevista na TvZero
Hoje, o blog GPS, hospedado no portal da revista Veja, especializado em "gente famosa, pessoas interessantes e sociedade", revela o segredo do atraso: porque os atores, quando estavam nus, não podiam usar o microfone de lapela, o que dificultou a captação direta dos diálogos sem interferência de outros sons que rolavam no ambiente.
A desculpa parece prosaica. Mas, também pode ser um boa jogada de marketing. Confesso que fiquei curioso para ouvir, com clareza, o que trazem esses educativos diálogos produzidos pela garota de programa que intelectualizou, e consta que ficou rica, o amor pago.
Aqui você assiste a entrevista na TvZero
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
A Menina Que Brincava com Fogo
Fiquei curioso e fui pesquisar sobre o segundo filme da trilogia Millenium - A menina que brincava com fogo -, cujos livros escritos pelo sueco Stieg Larsson viraram sucesso mundial e já venderam mais de 25 milhões de exemplares.
A boa notícia é que ele está lançado no Brasil, a ruim é que se pode afirmar com alguma segurança que pouca gente deve ter visto. Nas boas locadoras do ramo, nem pensar. No Google existem várias ofertas para baixá-lo.
Ainda não assisti ao segundo, achei o primeiro - Os homens que não amavam as mulheres - correto, tanto em relação à adaptação quando ao desempenho cinematográfico dos suecos. Se a performance foi mantida, este também deve ser assistível. Pelo menos no livro, a peculiar Lisbeth Salander cresce em protagonismo.
Salander é uma espécie de Robin Hood no mundo dos hackers, invadindo dezenas de redes e computadores para ajudar o jornalista Mikael Blomkvist a sobreviver, a desvendar vários golpes empresariais e a manter a revista Millenium na luta contra grupos de extremadireita.
Larsson escreveu seus três livros em ritmo de "thriller" literário e morreu aos 39 anos, de enfarto, sem assistir ao sucesso. O terceiro é A rainha do castelo de ar. A editora Companhia das Letras mantém uma página na internet sobre a trilogia.
Como a esperança é a última que mata, pode ser que as distribuidoras de filmes e as locadoras de vídeos se animem com a discussão mundial sobre o vazamento de informações "secretas" norte-americanas feitas pelo site WikiLeaks e promovam novamente as películas suecas.
Grupo Severiano Ribeiro
Boa notícia Anselmo Gois publicou em sua coluna de ontem, em O Globo, que o grupo vai anunciar no próximo ano um grande plano de investimentos para abrir 300 novas salas até 2016 quando comemora 100 anos. Coisa de R$ 450 milhões para chegar ao centenário com aproximadamente 500 salas.
domingo, 12 de dezembro de 2010
WikiLeaks
Com a explosão do caso WikiLeaks, a prisão de seu criador Julian Assange e o protesto que seguidores promoveram invadindo os sites da Visa e MasterCard, do governo e da Justiça da Suécia, ficou inevitável escrever sobre o filme "Os homens que não amavam as mulheres".
Pensei nisso ontem, quando constatei que nas locadoras, pelo menos nas que visito, o número de cópias ainda é pequeno. Não foi preciso, Elio Gaspari foi mais rápido e certamente mais brilhante.
Abaixo, a coluna de hoje, publicada na Folha de São Paulo:
ELIO GASPARI
Lisbeth Salander e os "wikihackers"
Os "wikihackers" mostraram a empresas onipotentes que atrás dos monitores não há apenas fregueses |
À força dos poderosos contrapôs-se a mobilização dos teclados da internet. O mundo do sucesso cibernético produziu figuras legendárias como Steve Jobs e Mark Zuckerberg, mas os "wikihackers" vêm de outro universo, onde há algo de transgressor. Por mais que haja "wikihackers" pensando em virar Jobs ou Zuckerberg, quem eles admiram mesmo é Lisbeth Salander.
Com seis piercings só na cabeça e um dragão tatuado nas costas, ela é a micreira antissocial, introspectiva e malvada dos romances do sueco Stieg Larsson, autor da trilogia "Millenium" (25 milhões de livros vendidos). Salander foi magistralmente interpretada por Noomi Rapace no filme "Os homens que não amavam as mulheres".
Gótica, cerebral e emburrada, come o pão que o diabo amassou, mas seus trocos são dolorosos. Uma das desforras faz do Capitão Nascimento um pacifista. A barreira do seu individualismo só é removida quando liga o computador, com o qual faz o que quer. Ambígua até na sexualidade, Salander não é uma personagem que estimule a clonagem, mas todo hacker tem um pouco de Lisbeth.
A prosperidade dos anos 50 e a fé no poder da tecnologia ajudaram o escritor Ian Fleming a construir a figura de James Bond. O poder que a gregariedade da internet dá hoje ao individualismo criou os "wikihackers" e Lisbeth Salander.
Bond deixou atrás de si alguns tiques, um modelo de pasta e mais nada. O ataque aos portais da Amazon, do Mastercard, da Visa e do PayPal ensinou a essas empresas onipotentes que atrás de cada monitor não está apenas um freguês.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Salt
Se tiveres paciência para abstrair uma enorme quantidade de tiros, bombas, granadas, carros em alta velocidade sendo destruídos e, além do além, a heroína saltando entre caminhões também a toda, podes gostar de Salt - o mais recente lançamento com a mega Angelina Jolie nas locadoras.
Nessa boa trama de suspense e muita ação, a bela e seus lábios que a cada película parecem maiores, corre, faz piruetas e bate em dezenas de marmanjos usando longas, e curtas, cabeleiras loiras e morenas, dentro de um figurino com poucos destaques.
Notei dois, o primeiro quando a semi-biônica espiã premeditadamente laça o futuro marido Ted, interpretado por August Dieh, um especialista em aracnídeos sem muito destaque na trama. O outro é quando a vilã-mocinha está na barca que passa pelas cercanias da Estátua da Liberdade trajando um modelito russo. Achei chiquérrimo todo o contraste do modelito com o ambiente da sequência.
Provavelmente minha pouca sensibilidade em alta costura me fez perder outros, mas uma coisa que não dá para deixar de notar, principalmente na mesma cena romântica onde o casal se conhece, é a plástica da bela, sem nunhuma ruguinha. Parece que a imagem foi manipulada em trucagem.
Por isso, acredito que em mais um, no máximo dois filmes, Jolie estará igual a ex-bela Nicole bumbum de bebê Kidman. Nesta, toda a capacidade de interpretação dramática ficou restrita aos olhos e a boca. Quesito no qual Jolie exibe disparada vantagem, até porque nos filmes que têm feito a senhora Brad Pitt não precisa de muita expressão para a sua dramaturgia.
Definitivamente essa turma de Hollywood é praticamente insuperável em filmes de ação e suspense envolvendo espionagem, CIA, FBI, principalmente quando os inimigos - eternos - são russos.
Cinema Paradiso
Por dezenas de motivos o primeiro post não poderia deixar de ser sobre Cinema Paradiso, película que provavelmente poucos não viram ou ouviram falar e que eu considero o “hino” da história do cinema. É uma idiossincrasia pessoal, pois fui deformado pela sétima arte quando ainda mamava no peito, conta a minha mãe, Sônia.
Segundo essas memórias, vivas, eu era levado para o camarote do Cine Lux, do meu avô Julio, quando a película era imperdível. Ela não me disse, nem eu perguntei, se algum berreiro atrapalhou uma exibição comandada pelo seu Chiquinho, o projecionista de um pouco mais de metro e meio de altura. Como em Paradiso, ele também subia num caixote para ajustar o filme.
Essa mesma porta mágica que ligava a casa do meu avô ao camarote do Lux eu continuei atravessando anos e anos, algumas vezes escondido para fugir da censura familiar e ver filmes “proibidos” ou apenas o futebol do Canal 100.
O Lux foi daqueles cinemas antigos, com mais de 600 poltronas, sendo o camarote também imenso, calculo coisa para mais de 100 lugares. A diferença entre o Lux e o roteiro de Paradiso é que ele não foi implodido. Deu lugar a uma agência bancária.
Duas memórias tenho sobre esse camarote, uma é que meu sistemático avô só liberava a subida aos domingos, quando a sala principal lotava, portanto, na maioria dos outros seis dias ele era só meu, o que me fez gostar de ver filmes sozinho, quieto, até hoje. E depois de algumas namoradinhas que eu galanteava com uma entrada furtiva, com a cumplicidade do seu Tomezinho, o porteiro. Era uma operação quase tão épica quanto Os Canhões de Navarone, pois o tio Bilaca, o atento e fiel bilheteiro, não podia nem sonhar.
Pois foi revendo Cinema Paradiso, pela quarta ou quinta vez, que decidi perder o medo e colocar em prática este www. Fazia alguns anos que eu não o repassava. Desta vez, senti o cheiro da cabine de projeção, o gosto da microfumaça do carvão queimando para criar aquela luz de milhares de lâmpadas a atravessar a escuridão até a imensa tela, o barulhinho intermitente do projetor.
Cinema Paradiso é uma película que corre nas veias dos cinéfilos. Veja ou reveja, provavelmente a sua relação com o cinema nunca mais será a mesma.
Segundo essas memórias, vivas, eu era levado para o camarote do Cine Lux, do meu avô Julio, quando a película era imperdível. Ela não me disse, nem eu perguntei, se algum berreiro atrapalhou uma exibição comandada pelo seu Chiquinho, o projecionista de um pouco mais de metro e meio de altura. Como em Paradiso, ele também subia num caixote para ajustar o filme.
Essa mesma porta mágica que ligava a casa do meu avô ao camarote do Lux eu continuei atravessando anos e anos, algumas vezes escondido para fugir da censura familiar e ver filmes “proibidos” ou apenas o futebol do Canal 100.
O Lux foi daqueles cinemas antigos, com mais de 600 poltronas, sendo o camarote também imenso, calculo coisa para mais de 100 lugares. A diferença entre o Lux e o roteiro de Paradiso é que ele não foi implodido. Deu lugar a uma agência bancária.
Duas memórias tenho sobre esse camarote, uma é que meu sistemático avô só liberava a subida aos domingos, quando a sala principal lotava, portanto, na maioria dos outros seis dias ele era só meu, o que me fez gostar de ver filmes sozinho, quieto, até hoje. E depois de algumas namoradinhas que eu galanteava com uma entrada furtiva, com a cumplicidade do seu Tomezinho, o porteiro. Era uma operação quase tão épica quanto Os Canhões de Navarone, pois o tio Bilaca, o atento e fiel bilheteiro, não podia nem sonhar.
Pois foi revendo Cinema Paradiso, pela quarta ou quinta vez, que decidi perder o medo e colocar em prática este www. Fazia alguns anos que eu não o repassava. Desta vez, senti o cheiro da cabine de projeção, o gosto da microfumaça do carvão queimando para criar aquela luz de milhares de lâmpadas a atravessar a escuridão até a imensa tela, o barulhinho intermitente do projetor.
Cinema Paradiso é uma película que corre nas veias dos cinéfilos. Veja ou reveja, provavelmente a sua relação com o cinema nunca mais será a mesma.
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