quinta-feira, 4 de outubro de 2012

"Selvagens", de Oliver Stone, crítica

 Hayek e Stone
Uma ciranda de pedra 

O GLOBO

Rodrigo Fonseca

Meses antes de morrer, ao participar de uma entrevista sobre o futuro do cinema, o diretor François Truffaut (1932-1984) declarou que Hollywood estaria salva sempre que um (então) garotão chamado John Travolta estivesse em cena. O impacto de “Os embalos de sábado à noite” (1977) pesava sobre a opinião de Truffaut.

A prova de que tinha razão aparece quando se confere o desempenho do ator de 58 anos no novo longa de Oliver Stone: “Selvagens” (“Savages”), em cartaz a partir de amanhã no Brasil. Não fosse pela breve, porém eletrificada, participação de Travolta no papel de um agente do FBI sem qualquer caráter, a salada dramatúrgica de Stone, realizador do oscarizado “Platoon” (1986), cairia num nível de indigestão intolerável dado o excesso de juízos sociológicos destituídos de reflexão.

Ao compor o agente Dennis, um glutão viciado em refrigerantes e hambúrgueres gotejantes de colesterol, Travolta é o único elemento em cena capaz de injetar verossimilhança a uma trama decalcada do romance de Don Winslow, filmada na Califórnia (e em locações na Indonésia) ao custo de US$ 45 milhões. 


Todo o resto é um festival de caricaturas, a começar pelo matador vivido por Benicio Del Toro. Na tela, instaura-se um caos narrativo atípico para um realizador que alcançou projeção na indústria por sua aptidão para escrever roteiros. Destaque entre eles os de “O expresso da meia-noite” (1978), de Alan Parker, e o de “Scarface” (1983), de Brian De Palma.

Continua O Globo

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