terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Filme sobre Violeta Parra premiado no Sundance


São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Ilustrada
Ilustrada


Filmes chilenos saem com dois prêmios de Sundance

Longa sobre Violeta Parra ganha prêmio de melhor drama internacional

Diretora-executiva do festival diz ver boa perspectiva para o cinema independente no próximo ano



FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A PARK CITY, UTAH

O Chile saiu com dois prêmios do Sundance Film Festival, evento que terminou no último domingo após a exibição de mais de cem filmes ao longo de dez dias.

"Violeta se Fue a los Cielos" (Violeta foi para o céu), um retrato da cantora folk chilena Violeta Parra (1917-1967), foi considerado o melhor drama internacional, enquanto "Joven y Alocada", (jovem e doida) sobre a vida de uma jovem blogueira do mesmo país, ganhou melhor roteiro de filme internacional.

"Nós crescemos num país durante a ditadura", disse Marialy Rivas, diretora e corroteirista de "Joven y Alocada", sobre as aventuras sexuais de uma garota criada numa família evangélica.

"Desde os sete anos, queria ser cineasta para escapar dessa realidade violenta. Todo filme é um ato de amor."
Andrés Wood, diretor de "Violeta se Fue a los Cielos" e "Machuca" (2004), não estava presente à cerimônia. O filme premiado foi feito em coprodução com Argentina, Brasil e Espanha.

Nas categorias para americanos, o júri escolheu melhor documentário "The House I Live In" (a casa em que vivo), de Eugene Jarecki, vencedor do mesmo prêmio em 2005 por "Razões para a Guerra".

No novo trabalho, o diretor analisa o combate contra as drogas nos EUA, que em 40 anos já levou à prisão 45 milhões de pessoas.

Entre os dramas, o vencedor foi "Beasts of the Southern Wild" (feras do agreste do sul), do diretor e roteirista Benh Zeitlin, 29, com uma história surreal de animais estranhos e uma garotinha que vive no fim do mundo.


CINEMA INDEPENDENTE
"Olhamos para o ano à nossa frente com um incrível otimismo para a comunidade do cinema independente, vendo o esforço de cineastas para atingir novas alturas no processo de contar histórias", disse Keri Putnam, diretora-executiva do Sundance Institute, grupo sem fins lucrativos responsável pelo festival.

"Beasts of the Southern Wild" foi comprado pela Fox Searchlight, que também distribuirá "The Surrogate" (o substituto), com John Hawkes. Outros acordos fechados levarão aos cinemas "2 Days in New York" (dois dias em Nova York), dirigido, coescrito e estrelado por Julie Delpy, e "Arbitrage" (arbitragem), com Richard Gere.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Sundance Festival, dada a largada

Diário de Pernambuco

Agência O Globo

Se o Festival de Sundance é um espelho dos EUA, a edição deste ano reflete uma imagem excepcionalmente dura de um lugar repleto de pessoas destruídas. Documentários examinam o colapso da base industrial do país, seu sistema de saúde falho, uma crise de fome entre os americanos mais pobres, a epidemia de estupros nas forças armadas, o sonho americano transformado em pesadelo e os desastrosos resultados da guerra às drogas.

Os filmes de ficção analisam fraudes financeiras e ganância corporativa, jovens adultos infelizes tentando reconstruir suas vidas e o tema mais amplo da decadência moral. "Um país em crise de meia-idade" é como Trevor Groth, diretor de programação de Sundance, resume a temática dominante no festival deste ano, que começa nesta quinta-feira em Park City, Utah.

Filmes independentes sempre tiveram uma tendência soturna. O desejo de contar histórias complicadas que não terminam com todo mundo sorrindo é parte do que deu origem ao movimento indie. Talvez o estranho clima uniforme desta seleção seja apenas um reflexo das dificuldades dos últimos anos, com duas guerras e uma recessão brutal nos EUA como o aspectos mais óbvios do problema. Mas os organizadores do festival, entre eles o fundador Robert Redford, se questionam se outras forças estão em jogo, mais espeficiamente a tecnologia e um ritmo mais intenso de filmagem.

Sim, Sundance sempre refletiu a sociedade contemporânea, mas a visão normalmente é mais nebulosa do que as pessoas (especialmente jornalistas em busca de tendências) gostam de admitir, ou pelo menos mais anacrônica. Historicamente, como os filmes de Sundance têm um período de gestação de três a cinco anos, eram grandes as possibilidades de que o clima cultural do momento examinado já tivesse passado.

Agora isso mudou. Por conta dos avanços na filmagem digital, um número notável de filmes na seleção de 2012 levou menos de um ano e meio para ficarem prontos. Alguns deles, utilizando equipamentos mais modernos e livres da burocracia dos grandes estúdios e complexos planejamentos de calendário, levaram apenas quatro meses para serem feitos.

"Se já houve um momento crucial para um olhar duro e honesto sobre o país, esse momento é agora. Não é segredo que estamos no fundo de um poço muito escuro e a velocidade com que os filmes agora podem ser feitos está ajudando muito os artitas a lidarem com isso", disse Robert Redford.

John Cooper, diretor de Sundance, também aponta a velocidade das ferramentas de filmagem digital, particularmente equipamentos de edição caseiros, como responsáveis por grandes mudanças no festival.

"Após o 11 de setembro sópudemos ver filmes reagindo ao acontecimento alguns anos depois", argumenta ele, "Quando a recessão nos atingiu depois disso, você sentiu o impacto mais rapidamente. Da perspectiva da programação, nos sentimos mais conectados com o que as pessoas estão sentindo nesse momento".

Groth e Cooper dizem que nenhum esforço é feito para moldar o festival em torno de um determinado tema; o que aparecer, apareceu. Os dois também insistem que não há agenda política nesse ano de eleições nos EUA (embora críticos em relação ao esquerdismo do festival certamente discordem). Mas eles consideram muito importante o papel de Sundance como avaliador cultural.

Continua DP

Sundance Film Festival

Nelson Rodrigues inédito

São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 2012Opinião
Opinião

RUY CASTRO

O menos esquecido

RIO DE JANEIRO - Nelson Rodrigues, tão acurado em suas profecias, errou longe numa avaliação que, um dia, fez de si mesmo: "Tenho certeza de que serei esquecido. E não digo isso por charme. O morto esquecido é o único que descansa em paz".
E não é que, por um longo momento, Nelson pareceu acertar? Quando morreu, aos 68 anos, em 1980, estava muito por baixo, situação que se prolongaria pelos mais de dez anos seguintes. Mas, desde então, foi não só redescoberto pela cultura brasileira, como implantou-se nela mais até do que em vida. E, ao contrário de outros heróis cujos centenários passaram quase em branco, o de Nelson, em 2012, será uma apoteose.
Bem de acordo com a nossa escassez de memória organizada, suas raras imagens sobreviventes em vídeo, até há pouco, eram entrevistas dos anos 70, mostrando-o cansado, doente e envelhecido. A cabeça, sempre brilhante, mas a voz já estava arrastada, bovina. Para quem não o conheceu, era difícil identificar ali o homem que mudou o teatro brasileiro.
Um vídeo surgido nesta semana na internet, "Fragmentos de dois escritores", recupera imagens de Nelson filmadas pelo comediógrafo João Bethencourt (1924-2006) em 1968, dadas como perdidas e localizadas pelo historiador Carlos Fico no Arquivo Nacional dos EUA. Que beleza de documento.
Durante dez minutos, vemos um Nelson aos 56 anos, magro, ágil e saudável, em casa (de pijama, comendo a "papinha hedionda" que lhe aplacava a úlcera, enquanto sua mulher, Lucia, nina a filha Daniela, a "menina sem estrela"); em Ipanema, saindo para o trabalho; no "Globo", escrevendo com dois dedos e fumando Caporal Amarelinho; na "Resenha Facit", da TV Rio, dizendo frases que faziam João Saldanha gargalhar; no Maracanã; etc. É o Nelson que lembra seus personagens -e tão cedo não descansará em paz.


Abaixo, o primeiro é a versão editada apenas com Nelson Rodrigues.

"Trechos do filme "Fragmentos de dois escritores", com Nelson Rodrigues. Este filme, bastante raro, foi feito pelo dramaturgo João Bethencourt (que chegou a lamentar que o filme estivesse perdido), patrocinado pelo Consulado dos EUA. João entrevistou Nelson e o dramaturgo norte-americano Edward Albee. Depoimento e cenas de Nelson Rodrigues tomando o famoso mingau contra a úlcera, escrevendo, assistindo Pelé no Maracanã e gravando a mesa-redonda sobre futebol na TV "A Grande Revista Esportiva Facit". A versão integral foi localizada no Arquivo Nacional dos EUA por Carlos Fico."





sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

MyFrenchFestival.com

Os que ainda não participaram têm até o dia 01 de fevereiro para acompanhar a segunda edição do MyFrenchFestival.com, onde é possível assistir belas películas via internet, a preços módicos.

Veja o que dizem os organizadores:

"MyFrenchFilmFestival.com é um novo conceito que tem como objetivo lhe apresentar o produto da criação de jovens franceses, permitindo que você compartilhe o seu amor pelo cinema francês com os internautas do mundo inteiro. Em sua segunda edição, o festival volta com mais línguas estrangeiras, novas plataformas parceiras e estreias de lançamentos pelo mundo afora.

Quando ?

De 12 de janeiro até 1º de fevereiro de 2012, os cinéfilos do mundo inteiro terão acesso a todos os filmes apresentados na segunda edição do festival de cinema francês online.

O começo

Concorrem dez longas-metragens e dez curtas-metragens de jovem criação francesa. Os internautas são convidados a votar em seus filmes preferidos e a deixar seus comentários no site. Os filmes que obtiverem a maior pontuação serão premiados e difundidos a bordo de todos os aviões da Air France. Não hesite em fazer ouvir a sua voz!

A seleção conta também com um filme antigo e dois filmes, um curtas-metragem e um longa-metragem, francófonos canadenses fora de competição.

Como?

O festival está disponível em 14 idiomas. O site da Internet e os filmes (disponíveis em vídeo pay per view) estão acessíveis em alemão, inglês, árabe, espanhol, francês, italiano, japonês, português, russo, polonês, hebraico e lituano. As versões coreana e chinesa estarão disponíveis nas plataformas parceiras, a KT na Coreia e a Youku na China.

Desde a abertura do site MyFrenchFilmFestival.com, vocês poderão visualizar gratuitamente as entrevistas exclusivas dos diretores e atores.

Os premiados

Seis prêmios serão conferidos no final do festival (três aos longas-metragens e três aos curtas-metragens): o Prêmio dos internautas, o Prêmio das redes sociais e o Prêmio da imprensa internacional. Os filmes premiados serão difundidos a bordo de todos os aviões da Air France a partir de primeiro de maio de 2012 por 6 a 9 meses.

Preços

Em todo o mundo:

Locação de um longa-metragem: 1.99 Euros
Locação de um curta-metragem: 0.99 Euros
Pacote de longas-metragens: 11,99 Euros para um acesso aos doze longas-metragens
Pacote de curtas-metragens: 5.99 Euros para um acesso aos dez curtas-metragens
Pacote Acesso Total: 15.99 Euros (acesso a toda a programação do festival)"


Mais detalhes MyFrenchFestival.com

Os estrangeiros no Oscar

Na lista dos nove filmes estrangeiros que vão concorrer ao Oscar 2012 na cateria está "Pina", de Wim Wender - não perca o novo trailer abaixo. No próximo dia 06, a Academia deve anunciar os cinco finalistas.

O cinema latino-americano está fora do páreo. Apenas a Argentina está representada no enredo do divertido "Superclásico". 63 películas entraram no funil, permaneram:

"Bullhead" - Bélgica, dirigido por Michael R. Roskam
"Monsieur Lazhar" - Canadá, por Philippe Falardeau
"Superclásico" - Dinamarca, Ole Christian Madsen
"Pina" - Alemanha, Wim Wenders
"A Separação" - Irã, Asghar Farhadi
"Footnote" - Israel, Joseph Cedar
"Omars Killed Me" - Marrocos, Roschdy Zem
"In Darkness" - Polônia, Agnieszka Holland
"Warriors of the Rainbow: Seediq Bale" - Taiwan, Wei Te-sheng


"A Separação", anunciado no domingo como vencedor do último Globo de Ouro e um dos favoritos, estreia no Brasil nesta sexta-feira.

O trailer de "Osmars Killed Me" não está disponível no YT.
















YouTube lança Festival de Curtas


do Diário Digital
Lisboa - Portugal


A partir de 2 de Fevereiro e até 31 de Março, o Youtube vai acolher candidaturas ao «Your Film Festival», através do qual cineastas emergentes terão ocasião de ver os seus trabalhos projectados no Festival de Cinema de Veneza. 

A plataforma online vai destacar os filmes com até 15 minutos de 50 semi-finalistas, selecionados pela produtora Scott Free Productions. Estes filmes vão formar um canal no Youtube

Posteriormente, 10 finalistas receberão passagem para assistir à 69ª edição do Festival de Veneza, onde verão os seus trabalhos projectados em Agosto para o público e onde poderão votar nos filmes seus favoritos. 

Ridley Scott, da produtora supra-referida, encabeçará um júri para apurar um grande vencedor, que ganhará 500.000 dólares (cerca de 390.814 euros) do Youtube para realizar um trabalho com a Scott Free Productions. 

«Através deste programa, o Youtube vai dar aos cineastas a oportunidade de chegar a uma vasta audiência, de projectar os seus trabalhos no Festival de Cinema de Veneza e de potencialmente serem recompensados de uma forma que pode mudar carreiras», afirmou em comunicado o responsável de conteúdos do Youtube, Robert Kyncl. 

No ano passado, o Youtube lançou o filme «Life in a Day», que foi co-produzido por Scott. O documentário reunia diversos vídeos de utilizadores da plataforma de vídeos.



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"Medianeras"

Depois de quinze dias caminando por las calles de Buenos Aires fui matar a saudade assistindo “Medianeras”, aproveitando para conhecer o novo espaço Itaú de cinemas, em Brasília.

Novo porque foi repaginado. Fica em um shopping de decoração, portanto, com pouca circulação de público e onde as sete salas que lá existiam comercialmente tinham fechado.

Nos finais de semana o espaço lota, nos outros dias o público é reduzido. Assisti ao delicioso, moderno, bem-humorado e bem resolvido filme do argentino Gustavo Taretto acompanhado de contadas outras 13 pessoas.

Minha esperança, com certeza compartilhada por quem gosta um pouquinho de cinema por aqui, é que o patrocinador, mesmo depois da nova redução da taxa de juros anunciada ontem pelo Cômite de Política Monetária, mantenha o Espaço.

Não será por falta de taxas de juros, e outras, na história dos bancos brasileiros que faltarão gordurinhas para que eles invistam, e subsidiem, cultura.   

A carência de locais digamos menos comerciais, que mantenham em cartaz filmes que as grandes redes exibem por no máximo uma semana, era total.

Sobre a película, para não chover no molhado, vou reproduzir a coluna da amiga Gisele Teixeira, do blog Aquí me quedo, publicada também no Blog do Noblat. Apenas recomendo, veementemente. 

Medianeras: conflito e solidão

O filme argentino Medianeras, de Gustavo Taretto, tem feito sucesso por onde passa e aborda “o tema” das grandes cidades, a solidão na era do amor virtual.
A história é contada por Martin, um fóbico buscando readaptar-se ao mundo, e Mariana, recém saída de um relacionamento. Ambos são vizinhos, vivem em Buenos Aires, na mesma rua, na mesma quadra, mas nunca se encontram.
A arquitetura aparece como terceiro protagonista, como vilão e como metáfora de isolamento e falta de comunicação.
Logo no início, o personagem masculino diz o seguinte: “estou convencido de que as separações, os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais a cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a apatia, a depressão, o suicídio, as neuroses,os ataques de pânico, a obesidade, as contraturas, a inseguridade, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e da construção civil. Destes males, salvo o suicídio, padeço de todos”.
Os dois personagens moram em “monoambientes”, as nossas conhecidas quitinetes, e tomam a decisão de abrir janelas nas paredes laterais de seus apartamentos para ganhar um pouco mais de luz.

Continua aqui

"Brizola Tempos de Luta"

No próximo domingo, 22 de janeiro, Leonel de Moura Brizola, o gauchão mais carioca do Brasil, nascido no povoado de Cruzinha, no interior do município de Passo Fundo, completaria 90 anos de nascimento. Morreu aos 82 anos, em 21 de junho de 2004, de infarto decorrente de complicações infecciosas, no Rio de Janeiro.

Para contar um pouco da história desse polêmico líder nacionalista, o canal de tv por assinatura Canal Brasil, às 16:15hs, estreia o documentário "Brizola Tempos de Luta", inédito nas telas comerciais, dirigido pelo escritor e cineasta gaúcho Tabajara Ruas.

Com argumento e roteiro de Sérgio Gonzales, mostra 60 anos de política do carismático, controverso e grande brasileiro que foi Brizola, com depoimentos do próprio, e de Fernando Henrique Cardoso, Lula, da ex-pedetista Dilma Rousseff, Oscar Niemeyer, Aldo Rebelo, Jarbas Passarinho, e outros. 

Brizola foi prefeito de Porto Alegre, deputado estadual e federal, governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, tornando-se assim o único a comandar dois estados diferentes. Em 1989 ainda tentou ser Presidente da República.

"Desde cedo, mostrava uma personalidade forte, pontuada por opiniões e posições bem definidas. O ingresso na vida pública se deu durante a faculdade de engenharia, quando começou a atuar em grêmios estudantis. À época, o país vivia o Estado Novo, período caracterizado pelo regime centralizador de Getúlio Vargas. O então presidente foi uma das principais referências de Brizola e o responsável pelo pontapé inicial de sua carreira, além de ter sido padrinho de seu casamento com Neusa Goulart, companheira que esteve ao seu lado por toda a vida. A proximidade com o mentor e genro João Goulart; o exílio no Uruguai durante a ditadura militar; os encontros com Fidel Castro e Che Guevara; a idealização dos CIEPs; os embates com famosos desafetos são alguns temas abordados na produção", informam os realizadores do longa.


Sem dúvida uma biografia a ser revisitada nos atuais tempos da política nacional. De uma impressionante falta de líderes.

domingo, 15 de janeiro de 2012

"As Aventuras de Agamenon, o Repórter"

São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 2012Opinião
Opinião

RUY CASTRO

Grandes atuações

RIO DE JANEIRO - Há tempos, num debate fora do Rio sobre literatura, alguém na plateia se referiu a biografias que escrevi -de Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda- e perguntou de quem seria a próxima. De brincadeira, respondi que estava pensando em Agamenon Mendes Pedreira, o jornalista venal, corrupto e mau-caráter. Como a piada caísse no vazio, expliquei que Agamenon era um personagem fictício, criado no "Globo" pelos humoristas Hubert Aranha e Marcelo Madureira, da turma do "Casseta".
A piada continuou no vazio, exceto para Marcelo e Hubert, que souberam dessa resposta e, anos depois, ao ter a ideia de filmar a vida de Agamenon, se atreveram a me convidar para fazer o "biógrafo não autorizado" do velho escroque da imprensa. E eu, num atrevimento ainda maior, aceitei.
O filme, "As Aventuras de Agamenon, o Repórter", acaba de estrear em 300 cinemas pelo Brasil, o que faz com que, desde então, eu não tenha muito onde me esconder. Por onde passo, desconhecidos íntimos gritam: "Te vi!", "Você, hein?" ou "E a Luana Piovani?", o que recebo como avaliações a favor. Os críticos também têm sido magnânimos comigo -limitam-se a citar minha participação.
Outros convidados, além de Fernanda Montenegro como narradora, são Pedro Bial, Caetano Veloso, Jô Soares, Paulo Coelho, Nelson Motta e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, todos dando seus "depoimentos" sobre Agamenon. Exceto Fernanda e Jô, nenhum de nós é ator, embora estejamos a toda hora diante das câmeras, no papel de nós mesmos.
Mas ninguém supera a convicção e a naturalidade com que FHC se refere ao imaginário Agamenon. Em certos momentos, quase me fez acreditar que Agamenon existia de verdade. A "aisance" de FHC na tela lembrou-me algumas de suas grandes atuações na Presidência.