Agência O Globo
Se o Festival de Sundance é um espelho dos EUA, a edição deste ano reflete uma imagem excepcionalmente dura de um lugar repleto de pessoas destruídas. Documentários examinam o colapso da base industrial do país, seu sistema de saúde falho, uma crise de fome entre os americanos mais pobres, a epidemia de estupros nas forças armadas, o sonho americano transformado em pesadelo e os desastrosos resultados da guerra às drogas.
Os filmes de ficção analisam fraudes financeiras e ganância corporativa, jovens adultos infelizes tentando reconstruir suas vidas e o tema mais amplo da decadência moral. "Um país em crise de meia-idade" é como Trevor Groth, diretor de programação de Sundance, resume a temática dominante no festival deste ano, que começa nesta quinta-feira em Park City, Utah.
Filmes independentes sempre tiveram uma tendência soturna. O desejo de contar histórias complicadas que não terminam com todo mundo sorrindo é parte do que deu origem ao movimento indie. Talvez o estranho clima uniforme desta seleção seja apenas um reflexo das dificuldades dos últimos anos, com duas guerras e uma recessão brutal nos EUA como o aspectos mais óbvios do problema. Mas os organizadores do festival, entre eles o fundador Robert Redford, se questionam se outras forças estão em jogo, mais espeficiamente a tecnologia e um ritmo mais intenso de filmagem.
Sim, Sundance sempre refletiu a sociedade contemporânea, mas a visão normalmente é mais nebulosa do que as pessoas (especialmente jornalistas em busca de tendências) gostam de admitir, ou pelo menos mais anacrônica. Historicamente, como os filmes de Sundance têm um período de gestação de três a cinco anos, eram grandes as possibilidades de que o clima cultural do momento examinado já tivesse passado.
Agora isso mudou. Por conta dos avanços na filmagem digital, um número notável de filmes na seleção de 2012 levou menos de um ano e meio para ficarem prontos. Alguns deles, utilizando equipamentos mais modernos e livres da burocracia dos grandes estúdios e complexos planejamentos de calendário, levaram apenas quatro meses para serem feitos.
"Se já houve um momento crucial para um olhar duro e honesto sobre o país, esse momento é agora. Não é segredo que estamos no fundo de um poço muito escuro e a velocidade com que os filmes agora podem ser feitos está ajudando muito os artitas a lidarem com isso", disse Robert Redford.
John Cooper, diretor de Sundance, também aponta a velocidade das ferramentas de filmagem digital, particularmente equipamentos de edição caseiros, como responsáveis por grandes mudanças no festival.
"Após o 11 de setembro sópudemos ver filmes reagindo ao acontecimento alguns anos depois", argumenta ele, "Quando a recessão nos atingiu depois disso, você sentiu o impacto mais rapidamente. Da perspectiva da programação, nos sentimos mais conectados com o que as pessoas estão sentindo nesse momento".
Groth e Cooper dizem que nenhum esforço é feito para moldar o festival em torno de um determinado tema; o que aparecer, apareceu. Os dois também insistem que não há agenda política nesse ano de eleições nos EUA (embora críticos em relação ao esquerdismo do festival certamente discordem). Mas eles consideram muito importante o papel de Sundance como avaliador cultural.
Continua DP
Sundance Film Festival
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