A ocupação das telas de cinema
ANDRÉ STURM
Tendências e Debates - Folha de São Paulo
No dia 15 de novembro, estreou a última parte da saga Crepúsculo no país. O filme entrou em 1.213 salas ao mesmo tempo.
Afinal, tantas pessoas querem ver o filme? Essa quantidade de salas é algo realmente necessário?
O Brasil tem cerca de 2.200 salas. Ou seja, um único filme ocupa cerca de 60% dos cinemas do país!
Se considerarmos que o novo filme 007 está em outras 400, temos mais de 1.600 salas (75% do total) com apenas dois filmes em cartaz.
Quem quer ir ao cinema é quase empurrado para ver um desses títulos. Não é o caso de pedir a ação dos órgãos que deveriam garantir a concorrência, que deveriam evitar o monopólio, a concentração? Quando a Nestlé quis comprar a Garoto e ficar com 70% do mercado de chocolate, houve um enorme debate, que movimentou órgãos do governo.
Dois filmes podem ter 75% das salas? Nesse caso, ainda temos a questão da diversidade --afinal, mesmo sendo um negócio, o cinema envolve diversos aspectos culturais.
É assistindo a filmes que muitos dos hábitos e costumes são formados. Foi através do cinema que os Estados Unidos, a partir dos anos 1950, impuseram os seus hábitos ao mundo, por exemplo, e isso obviamente tem implicações econômicas. Com os filmes, veio o "american way". Todo mundo passou a usar jeans, comer hambúrguer e escutar rock.
Não se trata de xenofobia ou discurso antiamericano. Mas o capitalismo prevê mecanismos para evitar excessos. No mercado de cinema, não se vê isso.
Continua Folha de São Paulo
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